sábado, 27 de setembro de 2008

É a hora de Joe Farnsworth

Joe Farnsworth é um dos bateristas mais requisitados para sessões de gravação de jazz atualmente. Preferido por músicos da velha e da atual geração jazzística, Farnsworth já gravou diversos álbuns como sideman, mas em 2004, a gravadora 441 lançou It’s Prime Time, seu segundo CD como líder. Reunindo velhos parceiros, o baterista conseguiu juntar músicos lendários como Ron Carter, Benny Golson e Harold Mabern com grandes nomes do jazz atual como Eric Alexander e David Hazeltine. A precisão e o apurado senso rítmico chamam a atenção para o estilo de Farnsworth, um conceituado jazzista do século XXI que merece mais atenção por parte dos fãs desse tipo de música.

A primeira faixa do álbum, “Sweet Poppa” abre com Joe Farnsworth puxando o ritmo da canção para a entrada de Harold Mabern ao piano, Ron Carter no baixo e Eric Alexander no sax tenor, que conduz a melodia com sua habitual elegância executando fraseados rápidos e segurando a nota principal, alongando o seu tempo. Destaque para o solo de Mabern muito bem apoiado pela precisão da dupla Farnsworth e Carter. Uma bela demonstração de como tocar um hard bop sem soar datado.

“Old Folks” começa como uma balada introduzida por David Hazeltine ao piano, seguido por Curtis Fuller no trombone, que dá a direção da melodia, enquanto Farnsworth dita o ritmo com suas vassourinhas na caixa, ao lado do sempre preciso Carter, que também encontra espaço para solar. Nesse momento o trio piano-baixo-bateria faz um excelente trabalho, quando Carter passa o solo para Hazeltine e Farnsworth dita o ritmo com o pedal. O que era uma balada inicialmente já ganha aspecto de hard bop com um balanço gostoso. Fuller, por fim, retoma o clima inicial e encerra a canção com um solo introspectivo.

O trio Farnsworth, Carter e Hazeltine abrem a canção com um ritmo swingado e contagiante, que ganha ainda mais qualidade com a adição do trompetista Jim Rotondi, que tocando com lacunas se comunica muito bem com a seção rítmica. Alexander incorpora mais força à melodia e ao mote central da canção. A condução de Farnsworth é exemplar, porque consegue um balanço envolvente. Em sua única composição para o álbum, o baterista ganha destaque amplo, mesmo que apenas na condução, pois nada foi “inventado” para que o seu instrumento se sobressaísse perante os demais. A qualidade de Farnsworth é demonstrada na harmonia do grupo.

Em “Stable Mates”, Farnsworth puxa o ritmo para a entrada dos veteranos Benny Golson no sax tenor, Carter no baixo e Mabern no piano. Esse encontro de gerações rende ao álbum mais de sete minutos de contemplação: primeiro o destaque está em Golson, que indica a direção melódica, depois Mabern sola com seu balanço habitual, posteriormente Farnsworth coloca seu vigor no chimbal com a baqueta esquerda, enquanto o pedal trabalha no bumbo e a baqueta direita passeia pelas demais partes da bateria. A reentrada de Golson no final da canção não diminui a intensidade do baterista, que segue marcando o ritmo com a mesma precisão. No fim, a canção é dos dois.

“Five Spot After Dark” tem o seu tema marcante executado por Golson, que alterna com Fuller a condução da melodia. A passagem de solos de um para o outro dá dinamicidade à canção, que dispõe ainda de uma base sólida sustentada por Farnsworth, Carter e Mabern.

“And So, I Love Again” é uma balada com um tom melancólico, principalmente pelo modo como Golson consegue fazer o seu sax tenor soar introspectivo. Farnsworth faz uso das vassourinhas para marcar o ritmo, enquanto Mabern estabelece algum diálogo com o sax, que permanece o tempo todo em destaque.

“The Third Plane” tem uma levada bossa nova puxada pela seção rítmica e por Alexander, que é enriquecida pelo trompete de Rotondi, que tem liberdade para solar. O solo de Carter, conduzido por Farnsworth, agrega à canção ainda mais balanço, que é estendido por Hazeltine. O tema inicial retoma para encerrar a canção.

Uma versão hard bop de “Hello, Young Lovers” tem início com Farnsworth repercutindo o chimbal e Carter marcando o tempo para Fuller introduzir o trombone na canção e travar um diálogo com o sax tenor de John Farnsworth, irmão do baterista. O trompete de Rotondi é adicionado e estabelece ainda mais dinamismo à faixa por seu soar rápido de cada nota, John Farnsworth desacelera a melodia, embora a seção rítmica siga na corrida. Hazeltine ao solar mantém a melodia no mesmo ritmo. O solo preciso de bateria de Joe Farnsworth é perfeitamente incorporado por Carter, que volta a marcar o tempo inicial da canção, que novamente introduz o trombone de Fuller à melodia e consegue chegar o ciclo, levando a canção de volta ao ponto inicial.

O álbum encerra com “Jose’s Lament”, uma faixa em que Farnsworth e Carter fazem a condução e deixam Alexander e Hazeltine solar com liberdade. O resultado é uma canção despretensiosa que reúne músicos de primeira linha tocando um tema agradável de acompanhar.

Joe Farnsworth conseguiu reunir reunir velhos parceiros, para quem já havia gravado, em seu álbum e apostou em uma seleção musical que juntasse alguns temas novos e standards. O resultado foi o nascimento de um grande álbum com músicos de primeira grandeza.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Joe Farnsworth: bateria
Ron Carter: baixo
David Hazeltine: piano (2,3,7,8,9)
Harold Mabern: piano (1,4,5,6)
Eric Alexander: saxofone tenor (1,2,3,7,9)
Benny Golson: saxofone tenor (4,5,6)
Curtis Fuller: trombone (2,5,8)
Jim Rotondi: trompete, flugelhorn (3,7,8)
John Farnsworth: saxofone tenor (8)

Faixas de It’s Prime Time:
01. Sweet Poppa [Mabern] 5:46
02. Old Folks [Hill, Robison] 7:20
03. Prime Time [Farnsworth] 8:02
04. Stable Mates [Golson] 7:11
05. Five Spot After Dark [Golson] 5:50
06. And So, I Love Again [Golson] 4:20
07. The Third Plane [Carter] 5:37
08. Hello, Young Lovers [Hammerstein, Rodgers] 7:44
09. Jose's Lament [Hazeltine] 7:06

Ouça um pouco do álbum no site Lastfm.com.

Ouça um pouco do álbum na amazonmp3:


Comprar o álbum ou mp3 downloads?

Nenhum comentário: