sábado, 28 de fevereiro de 2009

Jíbaro de Miguel Zenón

Lançado em 2005 pela gravadora Marsalis Music, Jíbaro do saxofonista alto Miguel Zenón é formado por dez faixas inéditas que remetem à musicalidade de Porto Rico, país de origem do líder do grupo. Zenón vem ganhando elogios e espaço no jazz atual graças ao seu modo de tocar que reflete muita elegância e suavidade. Se pensarmos em duas escolas de sax que influenciaram e influenciam gerações de músicos de jazz, Zenón estaria mais para a sutileza de Lester Young do que para a impulsividade de Coleman Hawkins. Não deixe de ouvir Jíbaro, pois este é um álbum muito bom.

A primeira faixa do álbum é “Seis Cinco”, que logo de início já revela a influência da musicalidade porto-riquenha e latino-americana no trabalho de Miguel Zenón. O piano de Luis Perdomo soa efetivamente como um instrumento de percussão, tal como indica a origem do som do aparelho, uma vez que a condução rítmica é primeiramente levada por ele, até que se juntam Antonio Sánchez na bateria e Hans Glawischnig no baixo. O sax alto de Zenón parte de uma melodia simples baseada em curtos fraseados repetitivos, que se desenvolvem em um solo mais intrincado. Uma mudança de andamento traz o piano de Perdomo para o primeiro plano, enquanto o ótimo Sánchez e Glawischnig fazem o acompanhamento. Zenón retoma a musicalidade festiva de Porto Rico em seu sax alto para encerrar a faixa.

O tema iniciado por Perdomo ao piano em “Farjardeño” encontra o baixo bem marcado de Glawischnig e a bateria de Sánchez, que marca o ritmo com direito a paradinhas que indicam a entrada de Zenón, cujo solo de sax alto a partir dos dois minutos indica uma leveza musical muito linda. O saxofonista tem o mérito de desenvolver seus temas com sutileza e elegância que já lhe renderam comparações com o lendário Paul Desmond. Sem dúvida estamos diante de um talento. Por mais que o ritmo do trio que acompanha Zenón seja contagiante nessa canção, que o baixo de Glawischnig consiga acompanhar a nossa pulsação ou que a precisão de Sánchez nos leve, é difícil não focar a atenção no saxofonista que ganha a cena com a sua maestria.

“Punto Cubano” nasce da interação entre a seção rítmica (Perdomo, Glawischnig e Sánchez) e os fraseados curtos de Zenón. A partir daí, a canção se desenvolve em um bonito solo de piano de Perdomo, que se encerra ao encontrar o sax alto de Zenón, cujo solo tem um quê de lamento.

O fraseado de sax alto facilmente reconhecível no início de “Aguinaldo” torna essa canção uma candidata a possível stardard no futuro. Canções com temas fáceis de lembrar como “Caravan” ou “Love For Sale” rapidamente caem no gosto popular, mas apenas o tempo dirá se o mesmo acontecerá a “Aguinaldo”. O ritmo conduzido por Glawischnig no baixo e Sánchez na bateria é lento e claramente caribenho, no qual Zenón no sax alto alterna o tema tema principal da canção e solos mais desenvolvidos, enquanto Perdomo no piano faz um acompanhamento preciso. Porém, é apenas a partir dos solos de baixo e, posteriormente, de piano que a canção se transforma. Com a aceleração do ritmo, o sax alto de Zenón ressurge mais solto, mas mantendo o refinamento e o mesmo senso melódico que consagrou o músico porto-riquenho.

Em “Chorreao” o destaque fica para a precisa marcação rítmica de Sánchez na bateria, que faz a complementação ideal para os fraseados curtos e pontuais de sax alto de Zenón. Ainda que o tema seja repetitivo, o ritmo é contagiante e certamente agradará a todos que gostam de jazz com um tempero latino.

A partir de um sentimental solo de sax alto, Zenón começa “Enramada” pelo que parece ser o seu final, tanto que após uma breve parada logo após o solo, a canção recomeça com uma ambientação quase cool centrada na sonoridade do saxofone. Uma nova breve parada e um novo recomeço em uma canção que se reinventa em um suave e belo solo de piano de Perdomo. Outra breve parada e o recomeço é iniciado por Zenón que fecha a canção tal como começou. O resultado parece ser várias canções interligadas gravadas em uma mesma faixa do CD. Um ouvinte mais desatento poderia pensar que quatro faixas foram passadas em pouco mais de seis minutos.

“Villarán” aproveita o final da canção anterior, mas logo a partir de uma breve introdução do baixo de Glawischnig, o ritmo muda sua cadência, tornando-se mais pulsante, mas não rápido. O sax alto de Zenón dá o tema e Perdomo ao piano desenvolve-o, depois há uma troca constante entre ambos na condução melódica. Mudanças de andamento e ótimos solos fazem dessa uma das melhores canções do álbum.

Aproveitando a base rítmica de suas origens porto-riquenhas, Zenón com seu sax alto compôs “Llanera” como uma canção que evidencia a bateria de Sánchez e o baixo de Glawischnig, além de proporcionar um ótimo solo de piano para Perdomo e um contagiante solo para o próprio Zenón.

“Mariandá” parte de um ritmo lento e de uma melodia arrastada e fragmentada liderada pelo sax alto de Zenón, que a desenvolve a medida que a bateria de Sánchez, o baixo de Glawischnig e o piano de Perdomo encontram o seu caminho. A partir daí a interação entre o saxofone e o piano faz um dueto agradável, que culmina em momentos mais intimistas com mudanças de andamento e um final diferente do esperado.

A faixa que dá nome ao álbum, “Jíbaro, é também a última do CD. Partindo de um início mais alegre, no qual o piano de Perdomo está em primeiro plano, o baixo de Glawischnig deixa a sua marca com destaque e a bateria de Sánchez ressoa os pratos, o chimbal e o bumbo, a canção tem um ritmo mais sacolejante. Ao entrar, Zenón no sax alto desenvolve o tema principal da canção e assume a liderança nos caminhos da melodia. Nessa faixa, o saxofonista pode mostrar mais velocidade e capacidade de improvisação, o que não é tão evidente em outros momentos do álbum, uma vez que a marca de Zenón é o seu estilo suave e altamente melódico.

Mesmo sem contar com instrumentos típicos da música porto-riquenha, o quarteto de Miguel Zenón conseguiu transpor toda a musicalidade e festividade da música caribenha para o seu jazz. Jíbaro é um trabalho repleto de qualidade que agradará os fãs de jazz latino. Zenón é um importante nome no saxofone alto neste século XXI, pois seu estilo suave e melodioso não o fixa como um músico conservador e tampouco inovador.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Miguel Zenón: saxofone alto;
Luis Perdomo: piano;
Hans Glawischnig: baixo;
Antonio Sánchez: bateria.

Faixas de Jíbaro:
01. Seis Cinco [Zenón] 5:45
02. Farjardeño [Zenón] 6:53
03. Punto Cubano [Zenón] 8:07
04. Aguinaldo [Zenón] 7:29
05. Chorreao [Zenón] 5:54
06. Enramada [Zenón] 6:11
07. Villarán [Zenón] 9:09
08. Llanera [Zenón] 6:18
09. Mariandá [Zenón] 5:47
10. Jíbaro [Zenón] 7:30

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

A estranha libertação de Dave Douglas

Lançado em 2004 pela gravadora Bluebird/RCA, Strange Liberation do trompetista Dave Douglas traz, além dos músicos habituais de seu quinteto, o guitarrista Bill Frisell como convidado. A adição deste é de grande importância para a qualidade do álbum, uma vez que muitas passagens foram pensadas para a guitarra como protagonista e não meramente como um incremento para acompanhar os sopros ou o Fender Rhodes. Por sua diversidade entre as vertentes do jazz, qualquer pessoa interessada em conhecer mais a sonoridade desenvolvida no século XXI deve ouvir o trabalho de Douglas e este álbum é uma boa dica para começar (ou continuar).

A primeira faixa do álbum é “A Single Sky”, uma canção curta com pouco mais de 2 minutos, que introduz o ouvinte à sonoridade do sexteto. Aí estão pontos altos que serão muito bem explorados em todo o álbum, como o baixo bem marcado de James Genus, os duetos bem arranjados entre o trompete de Dave Douglas e o sax tenor de Chris Potter, a guitarra de Bill Frisell surgindo como alternativa aos sopros. Apesar de curta, essa canção é repleta de possibilidades de audição, primeiro porque não desenvolve nenhum solo, depois deixa a vontade de querer ouvir mais, o que é subitamente cortado por um decrescendo que vai marcando a saída de Douglas, do Fender Rhodes de Uri Caine até deixar a última nota para as cordas de Frisell.

“Strange Liberation”, por sua vez, tem como destaque inicial o fraseado quase estridente do trompete de Douglas, enquanto a seção rítmica desenvolve um funky jazz cheio de balanço. O dueto entre Douglas e o sax tenor de Potter estabelece uma comunicação cheia de swing, responsável pelo estabelecimento do tema motriz da canção, que é igualmente recriada a seguir no dueto entre a guitarra de Frisell e o baixo de Genus, enquanto Clarence Penn e Caine acompanham tudo na bateria e no Fender Rhodes, respectivamente. Em determinado momento, o Rhodes de Caine deixa o papel de coadjuvante e passa a ser protagonista junto com Douglas e Frisell, sem que o tema principal da canção seja esquecido.

“Skeeter-ism” tem uma sonoridade nostálgica e sentimental, cujos duetos são os pontos de maior destaque. De início Douglas com seu trompete e Potter com seu clarinete baixo definem a direção melódica, enquanto o baixo de Genus e a bateria de Penn dão ritmo à canção. A guitarra de Frisell e o Fender Rhodes de Caine dão seguimento à sessão de ótimos duetos dessa faixa. Certamente esse é um dos pontos altos do álbum, pois essa é uma canção deliciosa de ouvir.

“Just Say This” tem no trompete de Douglas e na guitarra de Frisell as bases de seu som lento e introspectivo. A partir do acompanhamento de Caine, Genus e Penn, os solos de Douglas podem alcançar alturas ainda não buscadas antes e são esses agudos que servem como um belo contraponto ao sax tenor de Potter, que soa como se quisesse dizer belas palavras de amor. Em seguida, Frisell parece tomar conta do mesmo discurso para dar seguimento ao que vinha sendo desenvolvido pelos instrumentos de sopro. Ao tocarem juntos ao final da canção, podemos ter a certeza de quem eles conseguiram dizer – sem uma palavra – o que a composição trazia em seu título.

“Seventeen” é uma canção impetuosa com uma forte razão de ser no bebop. O baixo de Genus é marcado com intensidade e a bateria de Penn dá o ritmo por vezes quase frenético à canção, que se desenrola em solos enérgicos de sax tenor por Potter, de Fender Rhodes por Caine e, claro, de trompete por Douglas.

O diálogo minimalista entre a guitarra de Frisell e o Fender Rhodes de Caine serve como uma introdução ao tema melódico que é desenvolvido em “Mountains from the Train”. Enquanto esses instrumentos mais o baixo e a bateria dão o direcionamento intimista que a canção deve seguir, os sopros contribuem com o que vinha sendo construindo, apenas adicionando mais certeza nos rumos dessa experimentação musical.

“Rock of Billy” é centrada na guitarra de Frisell, que dá início à melodia, que tem prosseguimento com o Fender Rhodes de Caine e o trompete de Douglas. Apesar do título de muitos sentidos e dos primeiros acordes que podem enganar, o que se ouve é um hard bop de ótima qualidade com direito a bons solos como o de sax tenor de Potter e ao ótimo dueto de sopros com as seis cordas de acompanhamento.

O sax tenor de Potter e a guitarra de Frisell tocando em uníssono dão o mote a “The Frisell Dream”, uma canção com sólidas bases alicerçadas no marcante baixo de Genus e na bateria de Penn, cujo ritmo sustenta a melodia suave e ao mesmo tempo cheia de balanço que é conduzida ora pelo trompete de Douglas, ora pela guitarra de Frisell, ora pelo sax de Potter, enquanto os três não se juntam em harmonia para encerrar a canção.

“Passing Through”, com pouco mais de um minuto e meio, parece parte de uma canção descolada de seu contexto. Soa como um recorte desprendido de um princípio, no qual o trompete de Douglas sola pesadamente, enquanto tem o acompanhamento do baixo de Genus e da bateria de Penn que o ajudam a compor a atmosfera introspectiva.

O trompete com surdina de Douglas funciona como um chamado para os demais integrantes do grupo em “The Jones”. Estabelecendo um agradável ritmo com seu baixo, Genus proporciona, em conjunto com a bateria de Penn e o Fender Rhodes de Caine, um ambiente que permite o desenvolvimento de duetos muito bem articulados entre trompete e sax tenor, bem como o solo empolgante de teclado.

“Catalyst” encerra o álbum com uma forte referência ao fusion, uma vez que o baixo elétrico de Genus, a guitarra de Frisell e o Fender Rhodes de Caine se juntam à bateria de Penn para reviver as bases da sonoridade jazzística dos anos 1970. Com esse fundo, o que temos são solos livres e energizantes de sax tenor por parte de Potter e de trompete por Douglas.

Strange Liberation é um álbum multifacetado que percorre as muitas vertentes do jazz para criar a sua identidade. Além do talento de Dave Douglas como compositor e intérprete, que já recebeu o elogio (e ao mesmo tempo a pesada responsabilidade) de ser o trompetista que mais soa como Miles Davis atualmente, este disco tem um importante acréscimo ao contar com o músico convidado Bill Frisell, um dos principais guitarristas vivos do jazz, além do ótimo baixista James Genus que deixou sua participação marcada com louvor nas onze faixas desse álbum. Douglas é um nome que faz a diferença no jazz do século XXI, e o seu trabalho ajuda a definir rumos para a sonoridade do gênero.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Dave Douglas: trompete;
Bill Frisell: guitarra;
Chris Potter: saxofone tenor, clarinete baixo;
Uri Caine: Fender Rhodes;
James Genus: baixo acústico e elétrico;
Clarence Penn: bateria, percussão.

Faixas de Strange Liberation:
01. A Single Sky [Douglas] 2:05
02. Strange Liberation [Douglas] 8:05
03. Skeeter-Ism [Douglas] 6:00
04. Just Say This [Douglas] 6:33
05. Seventeen [Douglas] 8:40
06. Mountains from the Train [Douglas] 5:15
07. Rock of Billy [Douglas] 5:57
08. The Frisell Dream [Douglas] 3:56
09. Passing Through [Douglas] 1:36
10. The Jones [Douglas] 4:28
11. Catalyst [Douglas] 5:08

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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A temporada de mudanças de Brian Blade

Oito anos se passaram entre os lançamentos do álbum anterior e deste, Season of Changes, do baterista Brian Blade pela gravadora Verve em 2008. Durante esse período, Blade esteve ocupado tocando como sideman com Bob Dylan, Joni Mitchell, Kenny Garrett, Joshua Redman, Sam Yahel, Wayne Shorter. Ao retomar a carreira como líder, o baterista chamou antigos companheiros e renomeou o grupo para The Fellowship Band. O resultado está gravado neste ótimo álbum que consegue em alguns momentos ser jazz de alta classe e em outros momentos nem jazz ser. Musicalmente multi-influenciado, Blade nos apresenta um material inédito de ousadia e inventividade que o consolida como compositor e intérprete. Acredito que apenas o tempo e o desenrolar do século XXI serão capazes de dar o verdadeiro significado a Season of Changes.

O baixo de Chris Thomas tocando a mesma nota e a guitarra de Kurt Rosenwinkel deixando lacunas dão a introdução a “Rubilou’s Lullaby”, a primeira faixa do álbum. A bateria de Brian Blade prenuncia a entrada dos demais instrumentos à canção, como o piano de Jon Cowherd, que desempenha importantes papéis na condução e na passagem do sax tenor de Melvin Butler para o clarinete baixo de Myron Walden. A integração entre todos os instrumentos é total, tanto que ritmo e melodia estão muito ligados, tornando as participações de Walden e Butler não em solos, como o habitual no jazz, mas em um elemento em primeiro e segundo plano ao mesmo tempo. A sonoridade do grupo é progressiva e limítrofe ao empurrar as fronteiras do jazz para além.

Melvin Butler no sax tenor e Cowherd no piano estabelecem o motivo da canção “Return of the Prodigal Son”, que se desenvolve em um solo viajante de guitarra de Rosenwinkel, que encontra o solo enérgico de Butler, cuja sonoridade aqui o aproxima do hard bop sessentista e narra os percalços da personagem título. Cowherd restabelece a melodia e ganha o acompanhamento de Walden no sax alto e de Rosenwinkel, que é quem assume o papel principal e retoma o motivo da canção. Ao fundo, Thomas e Blade tem a importante função simbólica de demonstrar os períodos de tranquilidade, no início e no final da canção, cuja parte relata o retorno do filho pródigo, em oposição à parte central, que representa a inquietação traduzida no solo de Butler.

Uma bela e suave melodia é introduzida pelo guitarrista Rosenwinkel em “Stoner Hill”, cujos acordes, acompanhados por Blade na bateria e Thomas no baixo, serão o motivo da canção, no qual tudo se constrói. As entradas de Walden no clarinete baixo e de Cowherd no piano dão continuidade e desenvolvem o tema.

“Season of Changes”, canção que dá nome ao álbum, tem início com o piano solo de Cowherd ditando as bases da canção. A entrada dos demais instrumentos, primeiramente, serve para fazer acompanhamento ao tema iniciado ao piano. Blade na bateria marca a mudança de andamento, que dá mais vivacidade à canção. Cowherd ao piano e Rosenwinkel na guitarra dão o rumo à melodia, enquanto Thomas no baixo e Blade na bateria dão uma precisa marcação do tempo. Os belos solos de sax tenor de Butler e de sax alto de Walden são um dos pontos altos dessa faixa por dar uma cara mais jazzística ao tema progressivo colocado por Cowherd e Rosenwinkel.

“Most Precious One” é na verdade uma longa introdução para a faixa que a sucede, uma vez que o baixo de Thomas tocando sempre a mesma nota tem o acompanhamento do piano de Cowherd fazendo a mesma coisa, até que este desenvolva a melodia, quando ganha o acompanhamento de Blade na bateria. Então, o caminho está prono para a sexta faixa, “Most Precious One (Prodigy)”, que traz Cowherd tocando um Moog e Blade marcando o tempo em sua bateria como se tocasse um rock, enquanto Rosenwinkel completa com um solo viajante em total harmonia com o piano eletrônico. Blade parece ter composto esta canção inspirado na obra do Pink Floyd e de David Gilmour, pois se em outros momentos do álbum ele balançava no limite entre o jazz e o rock progressivo, nesta faixa ele cruzou a fronteira com os dois pés.

“Improvisation” inicia com Walden tocando uma melodia oriental em seu clarinete baixo, quando Cowherd ingressa na canção tocando o pump organ segurando prolongadamente a mesma nota, enquanto muito ao fundo temos o baixo de Thomas tocando a mesma nota. Walden desenvolve o tema inicial e contribui com um belo solo para o álbum, enquanto a canção chega a um crescendo, que se trata, na verdade, de uma introdução para a próxima faixa: “Alpha and Omega”. Como uma continuaçao da canção anteriormente desenvolvida, a atenção se centra sobre o pump organ de Cowherd, tocando como se estivesse em uma igreja, e no lento e misterioso soprar de Walden.

“Omni”, a canção que encerra o álbum, começa com um belo e melodioso dueto entre o sax alto de Walden e o piano de Cowherd, enquanto o baixo de Thomas e a bateria de Blade funcionam como os pés a manter a ave no chão. Nesta bela composição de Blade há espaço para um empolgante dueto entre o sax tenor de Butler e o alto de Walden, além de um solo reflexivo de muita beleza no piano de Cowherd, que dá ponto final a uma adorável canção.

Intrigante, desafiador, mas sobretudo um ótimo álbum. Em alguns momentos, Season of Changes parece como um primeiro passo em direção a algo novo. Se Brian Blade prosseguir trabalhando essa sonoridade, algo diferente pode surgir no mundo do jazz neste princípio de século XXI. Para abril de 2009, Blade promete o lançamento de um álbum novo, porém não tocando bateria, mas fazendo sua estréia como cantor e guitarrista. Resta-nos esperar.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Brian Blade: bateria;
Jon Cowherd: piano, pump organ, Moog, Wurlitzer;
Kurt Rosenwinkel: guitarra;
Myron Walden: saxofone alto, clarinete baixo;
Melvin Butler: saxofone tenor;
Chris Thomas: baixo.

Faixas de Season of Changes:
01. Rubylou's Lullaby [Blade] 4:38
02. Return of the Prodigal Son [Cowherd] 8:54
03. Stoner Hill [Blade] 3:19
04. Season of Changes [Cowherd] 12:00
05. Most Precious One [Blade] 2:50
06. Most Precious One (Prodigy) [Blade] 3:11
07. Improvisation [Cowherd, Walden] 3:56
08. Alpha and Omega [Blade] 1:28
09. Omni [Blade] 6:10

Ouça um pouco do álbum no site da gravadora Verve.

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Veja o vídeo de Brian Blade & The Fellowship Band tocando um trecho de “Return of the Prodigal Son”: