quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A temporada de mudanças de Brian Blade

Oito anos se passaram entre os lançamentos do álbum anterior e deste, Season of Changes, do baterista Brian Blade pela gravadora Verve em 2008. Durante esse período, Blade esteve ocupado tocando como sideman com Bob Dylan, Joni Mitchell, Kenny Garrett, Joshua Redman, Sam Yahel, Wayne Shorter. Ao retomar a carreira como líder, o baterista chamou antigos companheiros e renomeou o grupo para The Fellowship Band. O resultado está gravado neste ótimo álbum que consegue em alguns momentos ser jazz de alta classe e em outros momentos nem jazz ser. Musicalmente multi-influenciado, Blade nos apresenta um material inédito de ousadia e inventividade que o consolida como compositor e intérprete. Acredito que apenas o tempo e o desenrolar do século XXI serão capazes de dar o verdadeiro significado a Season of Changes.

O baixo de Chris Thomas tocando a mesma nota e a guitarra de Kurt Rosenwinkel deixando lacunas dão a introdução a “Rubilou’s Lullaby”, a primeira faixa do álbum. A bateria de Brian Blade prenuncia a entrada dos demais instrumentos à canção, como o piano de Jon Cowherd, que desempenha importantes papéis na condução e na passagem do sax tenor de Melvin Butler para o clarinete baixo de Myron Walden. A integração entre todos os instrumentos é total, tanto que ritmo e melodia estão muito ligados, tornando as participações de Walden e Butler não em solos, como o habitual no jazz, mas em um elemento em primeiro e segundo plano ao mesmo tempo. A sonoridade do grupo é progressiva e limítrofe ao empurrar as fronteiras do jazz para além.

Melvin Butler no sax tenor e Cowherd no piano estabelecem o motivo da canção “Return of the Prodigal Son”, que se desenvolve em um solo viajante de guitarra de Rosenwinkel, que encontra o solo enérgico de Butler, cuja sonoridade aqui o aproxima do hard bop sessentista e narra os percalços da personagem título. Cowherd restabelece a melodia e ganha o acompanhamento de Walden no sax alto e de Rosenwinkel, que é quem assume o papel principal e retoma o motivo da canção. Ao fundo, Thomas e Blade tem a importante função simbólica de demonstrar os períodos de tranquilidade, no início e no final da canção, cuja parte relata o retorno do filho pródigo, em oposição à parte central, que representa a inquietação traduzida no solo de Butler.

Uma bela e suave melodia é introduzida pelo guitarrista Rosenwinkel em “Stoner Hill”, cujos acordes, acompanhados por Blade na bateria e Thomas no baixo, serão o motivo da canção, no qual tudo se constrói. As entradas de Walden no clarinete baixo e de Cowherd no piano dão continuidade e desenvolvem o tema.

“Season of Changes”, canção que dá nome ao álbum, tem início com o piano solo de Cowherd ditando as bases da canção. A entrada dos demais instrumentos, primeiramente, serve para fazer acompanhamento ao tema iniciado ao piano. Blade na bateria marca a mudança de andamento, que dá mais vivacidade à canção. Cowherd ao piano e Rosenwinkel na guitarra dão o rumo à melodia, enquanto Thomas no baixo e Blade na bateria dão uma precisa marcação do tempo. Os belos solos de sax tenor de Butler e de sax alto de Walden são um dos pontos altos dessa faixa por dar uma cara mais jazzística ao tema progressivo colocado por Cowherd e Rosenwinkel.

“Most Precious One” é na verdade uma longa introdução para a faixa que a sucede, uma vez que o baixo de Thomas tocando sempre a mesma nota tem o acompanhamento do piano de Cowherd fazendo a mesma coisa, até que este desenvolva a melodia, quando ganha o acompanhamento de Blade na bateria. Então, o caminho está prono para a sexta faixa, “Most Precious One (Prodigy)”, que traz Cowherd tocando um Moog e Blade marcando o tempo em sua bateria como se tocasse um rock, enquanto Rosenwinkel completa com um solo viajante em total harmonia com o piano eletrônico. Blade parece ter composto esta canção inspirado na obra do Pink Floyd e de David Gilmour, pois se em outros momentos do álbum ele balançava no limite entre o jazz e o rock progressivo, nesta faixa ele cruzou a fronteira com os dois pés.

“Improvisation” inicia com Walden tocando uma melodia oriental em seu clarinete baixo, quando Cowherd ingressa na canção tocando o pump organ segurando prolongadamente a mesma nota, enquanto muito ao fundo temos o baixo de Thomas tocando a mesma nota. Walden desenvolve o tema inicial e contribui com um belo solo para o álbum, enquanto a canção chega a um crescendo, que se trata, na verdade, de uma introdução para a próxima faixa: “Alpha and Omega”. Como uma continuaçao da canção anteriormente desenvolvida, a atenção se centra sobre o pump organ de Cowherd, tocando como se estivesse em uma igreja, e no lento e misterioso soprar de Walden.

“Omni”, a canção que encerra o álbum, começa com um belo e melodioso dueto entre o sax alto de Walden e o piano de Cowherd, enquanto o baixo de Thomas e a bateria de Blade funcionam como os pés a manter a ave no chão. Nesta bela composição de Blade há espaço para um empolgante dueto entre o sax tenor de Butler e o alto de Walden, além de um solo reflexivo de muita beleza no piano de Cowherd, que dá ponto final a uma adorável canção.

Intrigante, desafiador, mas sobretudo um ótimo álbum. Em alguns momentos, Season of Changes parece como um primeiro passo em direção a algo novo. Se Brian Blade prosseguir trabalhando essa sonoridade, algo diferente pode surgir no mundo do jazz neste princípio de século XXI. Para abril de 2009, Blade promete o lançamento de um álbum novo, porém não tocando bateria, mas fazendo sua estréia como cantor e guitarrista. Resta-nos esperar.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Brian Blade: bateria;
Jon Cowherd: piano, pump organ, Moog, Wurlitzer;
Kurt Rosenwinkel: guitarra;
Myron Walden: saxofone alto, clarinete baixo;
Melvin Butler: saxofone tenor;
Chris Thomas: baixo.

Faixas de Season of Changes:
01. Rubylou's Lullaby [Blade] 4:38
02. Return of the Prodigal Son [Cowherd] 8:54
03. Stoner Hill [Blade] 3:19
04. Season of Changes [Cowherd] 12:00
05. Most Precious One [Blade] 2:50
06. Most Precious One (Prodigy) [Blade] 3:11
07. Improvisation [Cowherd, Walden] 3:56
08. Alpha and Omega [Blade] 1:28
09. Omni [Blade] 6:10

Ouça um pouco do álbum no site da gravadora Verve.

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Veja o vídeo de Brian Blade & The Fellowship Band tocando um trecho de “Return of the Prodigal Son”:

2 comentários:

fabiopires disse...

Olá Pablo, descobri seu blog por acaso lá no collectors room e vi que você preza também pelos novos nomes do jazz contemporâneo.Bom blog que serve de ferramenta para todos nós que gostamos dio estilo.Convido-o à participar dos meus amusicalidade.blogspot.com e istoejazz-fabiopires.blogspot.Sua opinião com apreciador de música será muito importante, meu caro.Abraços...

Anônimo disse...

Brian Blade é genial ...Um dos melhores jazzistas do momento que entrará sem dúvida para a história da bateria do jazz e entre os bateristas vivos, juntamente com Al Foster e Jack DeJonette, são meus preferidos.