domingo, 5 de outubro de 2008

Regina Carter estará com você nesta jornada sentimental

Lançado em 2006, pela gravadora Verve, o álbum I’ll Be Seeing You: A Sentimental Journey é uma homenagem a Grace Louise Carter, a falecida mãe da violinista Regina Carter. O repertório escolhido é composto pelas canções prediletas da mãe dela, a maior parte standards norte-americanos, blues e canções da Swing Era. O clima nostálgico é constante em todo o álbum, o que faz deste CD uma bela oportunidade para apreciar composições de Hart, Rodgers, Ellington e outros com uma ótima qualidade de gravação. Prepare-se para 66 minutos de muito swing.

A primeira faixa do álbum é uma versão post-bop de “Anitra’s Dance”, do compositor pós-romântico norueguês Edvard Grieg, parte da célebre obra Peer Gynt. A apropriação jazzística da canção deu nova vida à obra, pois a adição da seção rítmica com Alvester Garnett na bateria e Matthew Parrish no baixo incorpora mais dinamismo ao conjunto, uma vez que a melodia, conduzida por Regina Carter no violino, Gil Goldstein no acordeom e Xavier Davis no piano, é acelerada e ganha muito em balanço. Destaque para o dueto entre o violino e o clarinete de Paquito D’Rivera, apoiado na seção rítmica, que dá um ritmo dançante à canção, que, naturalmente, não existia na composição original.

“Little Brown Jug”, popularizada com a orquestra de Glenn Miller, retorna, nesta versão, para as suas origens de canção folk. Tocada por um pequeno grupo, a melodia é levada pelo violino de Carter, que em primeiro plano ganha o destaque principal, enquanto o acordeom de Goldstein e o clarinete de D’Rivera complementam o som deixando-o mais robusto. O trio piano, baixo e bateria faz o acompanhamento com muita precisão, ditando o ritmo sem atrair para si o foco principal.

“Bei Mir Bist Du Schön”, uma canção de origem judaica com versos cantados em inglês, popularizada pelas Andrews Sisters nos anos 1930 e depois gravada por Benny Goodman, tem a participação da cantora Dee Dee Bridgewater. A fusão de folk e swing é a tônica da canção, que conta ainda com belos diálogos entre o violino e o clarinete, além de uma interpretação empolgante de Bridgewater com direito a scat singin’.

A beleza de “Sentimental Journey” na interação entre o baixo de Parrish, que conduz o ritmo, mas também dialoga com violino de Carter e o clarinete de D’Rivera. Com uma levada blues, a canção consegue o seu objetivo que é soar sentimental. Os solos de Carter e D’Rivera sofrem mudanças de andamento como que cantando versos de um velho blues, que expressa uma dor interior. Um ponto alto do álbum.

“You Took Advantage of Me” é cantada por Carla Cook, que faz uma bela interpretação. Os demais instrumentos são relegados ao papel de meros acompanhadores, exceto o violino de Carter que ganha mais espaço com um solo cheio de balanço, na parte mais swingada da canção.

“St. Louis Blues”, que ganhou enorme popularidade com Bessie Smith e Louis Armstrong, nesta versão tem seus versos cantados por Cook. Destaque para os solos em seqüência, primeiro de violino de Carter, depois de acordeom de Goldstein e posteriormente de clarinete de D’Rivera. Carregada de sentimento em sua voz, Cook merece elogios por sua interpretação de uma mulher que sofre por seu amado.

“A-Tisket, A-Tasket”, eternizada na voz de Ella Fitzgerald, ganha aqui uma versão instrumental, na qual o violino de Carter puxa a conhecida melodia onde a voz se encaixaria. O baixo de Parrish e a bateria de Garnett dão o caminho certo para os demais instrumentos conduzirem a melodia com muito swing. Destaque para os duetos entre o violino de Carter e o piano de Davis, que encontram o tempo perfeito e fazem um excelente trabalho de complementação.

A composição de Duke Ellington, “Blue Rose”, tem mais uma vez um belo dueto entre violino e piano, mas desta vez com um tom mais reflexivo que aponta uma direção mais intimista e triste.

“This Can’t Be Love”, composta por Rodgers, parte do musical The Boys from Syracuse, é cantada por Bridgewater com uma interpretação cheia de balanço para a letra irônica da canção que diz: “This can’t be love because I fell so well/ no sob. No sorrow, no sight”. O baixo de Parrish responsável pela condução do ritmo interage muito bem com o piano e o violino, fornecendo todo o suporte, uma vez que a bateria não está presente nesta gravação. O scat de Bridgewater se encaixa muito bem nos diálogos com o piano, o baixo e o violino, dando um balanço muito gostoso à canção. Certamente, um dos melhores momentos do álbum.

“How Ruth Felt”, a única composição de Carter para o álbum, é dedicada a Ruth Felt, presidente da organização de artes San Francisco Performances, que foi importante para Regina durante o período em que sua mãe estava doente. A canção é uma balada construída sobre uma bela melodia intercambiada pelo violino de Carter e o piano de Davis, com uma participação destacada da seção rítmica. Há um quê de ternura em toda a canção, que a torna muito bonita.

A balada “There’s a Small Hotel”, outra composição de Hart e Rodgers, cantada por Cook mantém o clima nostálgico como tema central do álbum. A levada é típica da Swing Era, na qual o violino de Carter e o piano de Davis dialogam com muito entrosamento fazendo o acompanhamento à voz de Cook, cuja interpretação agrega sensualidade e sensibilidade à canção.

“I’ll Be Seeing You” é uma canção sentimental de muito sucesso nos anos 1940 com Bing Crosby, que nesta versão puramente instrumental tem a melodia toda centrada no violino de Carter, que é quem dá a direção, enquanto o acordeom de Goldstein e o piano de Davis fazem o acompanhamento que enriquece a obra. Com essa canção, Carter dá um tom de despedida ao álbum e à sua mãe.

Ainda que o violino no jazz não seja uma novidade, pois artistas como Stephane Grappelli, Jean-Luc Ponty entre outros já o utilizaram antes, ainda não é algo usual. Regina Carter consegue fazer do violino um instrumento tão integrado ao jazz quanto um trompete ou um piano, pois sua habilidade para improvisar e swingar são destacadas. I’ll Be Seeing You: A Sentimental Journey é um álbum que funciona porque apresenta releituras de standards em versões cheias de balanço com muita qualidade.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Regina Carter: violino;
Xavier Davis: piano (exceto 4);
Matthew Parrish: baixo;
Alvester Garnett: bateria (exceto 4 e 9);
Dee Dee Bridgewater: vocais (3 e 9);
Carla Cook: vocais (5, 6 e 11);
Paquito D'Rivera: clarinete (1, 2, 3, 4 e 6);
Gil Goldstein: acordeom (1, 2, 3, 6 e 12).

Faixas de I’ll Be Seeing You: A Sentimental Journey:
01. Anitra's Dance [Grieg] 2:55
02. Little Brown Jug [Winner] 4:46
03. Bei Mir Bist Du Schön [Cahn, Chaplin, Jacobs, Secunda] 4:43
04. Sentimental Journey [Brown, Green, Homer] 6:07
05. You Took Advantage of Me [Hart, Rodgers] 4:55
06. St. Louis Blues [Handy] 7:09
07. A-Tisket, A-Tasket [Feldman, Fitzgerald] 8:01
08. Blue Rose [Ellington] 2:52
09. This Can't Be Love [Rodgers] 5:15
10. How Ruth Felt [Carter] 5:52
11. There's a Small Hotel [Hart, Rodgers] 5:21
12. I'll Be Seeing You [Fain, Kahal] 5:09

Ouça um pouco do álbum no site da Lastfm.com.

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Veja o vídeo de Regina Carter interpretando “Anitra’s Dance” ao vivo:



Veja o vídeo de Regina Carter interpretando “Blue Rose” ao vivo:

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