segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Um presente de Jimmy Greene

Lançado pela gravadora Criss Cross em 2007, Gifts and Givers do saxofonista tenor (e por vezes soprano) Jimmy Greene é o quinto álbum da carreira como líder do músico. Com duas composições próprias, uma dividida e pelo menos duas faixas escritas por influenciadores diretos, Greene apresenta um ótimo e complexo repertório para agradar o de jazz por mais de 63 minutos. Considerado em 1999 pela revista Downbeat uma das 25 estrelas em ascensão do jazz para brilhar no século XXI, Jimmy Greene prova que a promessa é hoje uma realidade.

A primeira faixa do álbum, “Mr. McLean”, é um homenagem ao mentor musical de Jimmy Greene, saxofonista alto Jackie McLean. Essa canção é uma boa oportunidade para Greene improvisar seu Post-Bop muito bem acompanhado pelo também saxofonista tenor Marcus Strickland em um bom trabalho de complementação. Destaque também para a troca que Danny Grissett faz de seu piano por um Fender Rhodes.

“Greene Blues” é uma balada envolvente composta por Harry Connick Jr., que é bem executada com cada nota bem tocada e sem exageros. Greene e Strickland conseguem um bom entrosamento musical e propiciam uma agradável melodia.

“Forever” surge lenta ao soprar de Greene, enquanto Grissett e o baterista Eric Harland estabelecem o ritmo introspectivo da canção. É muito bom ouvir a sonoridade de Greene se desenvolver e crescer nessa canção, pois sua maneira de tocar faz referência direta ao Hard Bop dos anos 1960 – e nessa época muita coisa boa surgiu no jazz.

Um dos grandes momentos do álbum é a faixa “Magnolia Triangle”, quedestaque a todos os músicos através de sua complexa melodia. Seja o baixo bem colocado de Reuben Rogers, que complementa a bateria de Harland e a guitarra de Mike Moreno, ou o destacado piano de Grissett, ou ainda a perfeita sintonia de Greene e Strickland, na qual cada um tem seu som reproduzido em um canal diferente (tente ouvir com um fone de ouvido e aprecie ao máximo), a canção é uma deliciosa exibição do talento individual e ao mesmo tempo a ótima sincronização do grupo.

Com “26-2”, Greene deixa claro que uma de suas principais influências é mesmo John Coltrane, cuja melodia é executada com rapidez em notas sopradas com um quê de fúria e, ao mesmo tempo, grande senso estético, enquanto a seção rítmica destaca-se principalmente pelo belo trabalho de Rogers e Harland.

O balanço da seção rítmica e a sutileza de Greene ao sax soprano fazem de “Blue Bossa/Boudreaux” um dos pontos altos do álbum. Ao introduzir o dueto do tenor de Strickland com o soprano de Greene com o Fender Rhodes de Grissett ao fundo transforma o suingado à brasileira em um moderno balançar eletrônico, o que produz um final surpreendente para o início que teve a canção.

A faixa que encerra o CD é “Eternal Triangle” composta por outro influenciador de Greene, o saxofonista Sonny Stitt. A ótima interação do grupo é uma marca definitiva nessa versão, que deixa transparecer o quanto todos estavam à vontade para executar com grande naturalidade essa peça. Mais uma vez a harmonia e entrosamento de Greene e Strickland roubam a cena, uma vez que optam por abdicar de uma batalha de tenores para investirem na integração de suas sonoridades.


Faixas de Gifts and Givers:
01. Mr. McLean [Greene] 9:25
02. Greene
Blues [Connick] 7:37
03. Forever [Greene] 8:49
04. Magnolia Triangle [Black] 10:10
05. 26-2 [Coltrane] 8:07
06. Blue
Bossa/Boudreaux [Dorham, Greene] 10:18
07. Eternal Triangle [Stitt] 9:13

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Um comentário:

Aluizio Amorim disse...

Pablo:
o blog está muito bom. Estou linkando vc e escrevi um post a respeito da Esperanza Spalding por conta de sua indicação do CD naquele dia lá na Saraiva. E falo de você no post elevando-o à condição de "consultor", o que de fato é, já que oferece dicas excelentes. A garota realmente é muito competente e uma agradável revelação do jazz neste século XXI.
E vi que aqui no blog, além do Eldar que conheço há outros ótimos músicos dessa nova safra do jazz que jamais morrerá. Uau! Abraço do Aluízio Amorim