Indicado em duas categorias ao prêmio Grammy 2007, Sky Blue, lançado pela gravadora Artistshare em 2007, levou o primeiro lugarcomoMelhorComposição Instrumental pelacanção “Cerulean Skies”. Certamente foi umbeloreconhecimentopara a obra da pianista, compositora, arranjadora e líder Maria Schneider. Discípula de Gil Evans, Schneider avança estilisticamente em relação às tradicionais big bands e apresenta um CD que certamente será lembrado pormuitotempo.
A primeiracanção do álbum é a ótima “The ‘Pretty’ Road”, que de início soa umtantointrospectivacomares cool, masque cresce emintensidade e sonoridade à medidaque Ingrid Jensen assume a liderança dos soproscomum flugelhorn e umtrompete, enquanto é acompanhada por Tony Kadleck, Jason Carder e Laurie Frink que a acompanham com os mesmosinstrumentos. A adição de elementoseletrônicos, cantos de pássaros e vocalizações de Luciana Sousa tem porintençãoambientar o ouvintecom a cidadenatal – Windom, MN, EUA – arranjadora, compositora e líder Maria Schneider. O resultado é uma belaviagempor uma estradatranqüila.
“Aires de Lando” soa comoumtango orquestrado queemseusdetalhes, como as palmas e o cajon de Jon Wikan e Gonzalo Grauou o acordeão de Gary Versace, vai ganhando a atenção do ouvinte. Os sopros e metais assumem a frente e conseguem umsom envolvente, principalmentepela dramaticidade de Scott Robinson no clarinete.
O solo melancólico e sentimental de saxtenor de Rich Perry dá o tom de abertura da canção “Rich’s Piece”, compostapor Schneider parahomenagear o seusaxofonista. A ambientação introspectiva obtida portoda a orquestra dá a sustentaçãonecessáriapara a belaexecução de Perry, queencontra na marcação rítmica de Clarence Penn na bateria, de Jay Anderson no baixo e de Frank Kimbrough no piano, o tempocertoparaconduzir na linhade frentetoda a melodia.
Emseusquase 22 minutos de duração, “Cerulean Skies” adiciona umpouco de ares new age ao jazz orquestrado comseuscantos de pássaros recriados pelaflauta. A canção interrompe umcrescendoparaentraremuminterlúdiomaisreflexivo, no qual destaca-se o saxalto de Charles Pillow, queganhamaisforçacom o acompanhamento do conjunto de trompetes e trombones. O acordeão de Versace, o piano de Kimbrough e o baixo de Anderson levam a cançãoparaumtomquase minimalista e de imersão. A retomada se dá de formanatural e traz a voz de Luciana Sousa comouminstrumentoque compõe o cenário, poissuasvocalizaçõesnão trazem palavras, masummotivoparaser seguido e ampliado pelaorquestra. Apesar de porvezes essa cançãonãosoarcomojazzhabitual, aquelejazz facilmente reconhecível, Maria Schneider vai além e consegue fazercomque a mesmacanção seja jazz e não seja jazz ao mesmotempo. Desafiando o ouvintemais tradicional, a compositora extrai o melhor de seusmúsicos e consegue umótimoresultadocom uma faixa que explora a musicalidade emgeralsem se prender ao que se esperaria de uma orquestra jazzística.
“Sky Blue”, a cançãoque dá nome ao álbum, é lenta e melodicamente muitobonita. O solo de saxsoprano de Steve Wilson dá a direçãoque a orquestra deve seguir. Ao se aproximar do final da canção, fazendo seuinstrumentosoarcomo o canto de pássaros, Wilson deve ter tirado umsorriso de Schneider, uma apaixonada poressesanimais.
Emsuascincocanções, Sky Blue tem grandesméritos: o primeiro é serdiferente do quenormalmente se espera de jazz orquestrado, poisaqui há maisespaçopara o cool do quepara o swing; depoisemcomposiçõesoriginais, Schneider provaporque pode ser considerada uma das grandes compositoras deste século XXI.
Todos os músicosque participaram do álbum: Maria Schneider: compositora, arranjadora, líder; Steve Wilson: saxofonesalto e soprano, flauta, flautaalto, saxofonesopranosolo (5); Charles Pillow: saxofonealto, clarinete, piccolo, flauta, flautaalto, flautabaixo, saxofonealtosolo (4); Rich Perry: saxofonetenor, flauta, saxofonetenorsolo (3); Donny McCaslin: saxofonetenor, clarinete, saxofonetenorsolo (4); Scott Robinson: saxofonebarítono, clarinete, clarinete baixo, clarinete solo (2); Tony Kadleck: trompete, flugelhorn; Jason Carder: trompete, flugelhorn; Laurie Frink: trompete, flugelhorn; Ingrid Jensen: trompete, flugelhorn, flugelhorn e trompetesolocomefeitoseletrônicos (1); Keith O'Quinn: trombone; Ryan Keberle: trombone; Marshall Gilkes: trombone; George Flynn: trombonebaixo, trombonecontrabaixo; Ben Monder: violão; Frank Kimbrough: piano; Jay Anderson: baixo; Clarence Penn: bateria; Gary Versace: acordeão (1, 2, 4), acordeãosolo (4); Luciana Sousa: voz (1, 4); Gonzalo Grau: cajon, palmas, percussão (2), percussão (4); Jon Wikan: cajon, palmas (2), percussão (3, 4).
Faixas de Sky Blue: 01. The 'Pretty' Road [Schneider] 13:28 02. Aires de Lando [Schneider] 10:00 03. Rich's Piece [Schneider] 9:34 04. Cerulean Skies [Schneider] 21:57 05. Sky Blue [Schneider] 8:08
Natural de Porto Alegre, estou desde 2005 em Florianópolis. Cursei Licenciatura em Letras (Inglês/Português) por quatro anos na UFRGS. Foi nessa época que surgiu o meu interesse por jazz. Posteriormente abandonei o curso para ingressar na faculdade de Psicologia na UFSC. Meu amor pela música é intenso, bem como minha curiosidade pelo novo. Depois de muito ouvir "dinossauros" como Mingus, Coltrane, Miles, Parker, Monk e outros, quis descobrir novos talentos. São algumas dessas descobertas que compartilho neste blog.
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