sábado, 16 de agosto de 2008

Um vôo no céu azul de Maria Schneider

Indicado em duas categorias ao prêmio Grammy 2007, Sky Blue, lançado pela gravadora Artistshare em 2007, levou o primeiro lugar como Melhor Composição Instrumental pela canção “Cerulean Skies”. Certamente foi um belo reconhecimento para a obra da pianista, compositora, arranjadora e líder Maria Schneider. Discípula de Gil Evans, Schneider avança estilisticamente em relação às tradicionais big bands e apresenta um CD que certamente será lembrado por muito tempo.

A primeira canção do álbum é a ótima “The ‘Pretty’ Road”, que de início soa um tanto introspectiva com ares cool, mas que cresce em intensidade e sonoridade à medida que Ingrid Jensen assume a liderança dos sopros com um flugelhorn e um trompete, enquanto é acompanhada por Tony Kadleck, Jason Carder e Laurie Frink que a acompanham com os mesmos instrumentos. A adição de elementos eletrônicos, cantos de pássaros e vocalizações de Luciana Sousa tem por intenção ambientar o ouvinte com a cidade natal – Windom, MN, EUA – arranjadora, compositora e líder Maria Schneider. O resultado é uma bela viagem por uma estrada tranqüila.

“Aires de Lando” soa como um tango orquestrado que em seus detalhes, como as palmas e o cajon de Jon Wikan e Gonzalo Grau ou o acordeão de Gary Versace, vai ganhando a atenção do ouvinte. Os sopros e metais assumem a frente e conseguem um som envolvente, principalmente pela dramaticidade de Scott Robinson no clarinete.

O solo melancólico e sentimental de sax tenor de Rich Perry dá o tom de abertura da canção “Rich’s Piece”, composta por Schneider para homenagear o seu saxofonista. A ambientação introspectiva obtida por toda a orquestra dá a sustentação necessária para a bela execução de Perry, que encontra na marcação rítmica de Clarence Penn na bateria, de Jay Anderson no baixo e de Frank Kimbrough no piano, o tempo certo para conduzir na linha de frente toda a melodia.

Em seus quase 22 minutos de duração, “Cerulean Skies” adiciona um pouco de ares new age ao jazz orquestrado com seus cantos de pássaros recriados pela flauta. A canção interrompe um crescendo para entrar em um interlúdio mais reflexivo, no qual destaca-se o sax alto de Charles Pillow, que ganha mais força com o acompanhamento do conjunto de trompetes e trombones. O acordeão de Versace, o piano de Kimbrough e o baixo de Anderson levam a canção para um tom quase minimalista e de imersão. A retomada se dá de forma natural e traz a voz de Luciana Sousa como um instrumento que compõe o cenário, pois suas vocalizações não trazem palavras, mas um motivo para ser seguido e ampliado pela orquestra. Apesar de por vezes essa canção não soar como jazz habitual, aquele jazz facilmente reconhecível, Maria Schneider vai além e consegue fazer com que a mesma canção seja jazz e não seja jazz ao mesmo tempo. Desafiando o ouvinte mais tradicional, a compositora extrai o melhor de seus músicos e consegue um ótimo resultado com uma faixa que explora a musicalidade em geral sem se prender ao que se esperaria de uma orquestra jazzística.

“Sky Blue”, a canção quenome ao álbum, é lenta e melodicamente muito bonita. O solo de sax soprano de Steve Wilson dá a direção que a orquestra deve seguir. Ao se aproximar do final da canção, fazendo seu instrumento soar como o canto de pássaros, Wilson deve ter tirado um sorriso de Schneider, uma apaixonada por esses animais.

Em suas cinco canções, Sky Blue tem grandes méritos: o primeiro é ser diferente do que normalmente se espera de jazz orquestrado, pois aquimais espaço para o cool do que para o swing; depois em composições originais, Schneider prova por que pode ser considerada uma das grandes compositoras deste século XXI.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Maria Schneider: compositora, arranjadora, líder; Steve Wilson: saxofones alto e soprano, flauta, flauta alto, saxofone soprano solo (5); Charles Pillow: saxofone alto, clarinete, piccolo, flauta, flauta alto, flauta baixo, saxofone alto solo (4); Rich Perry: saxofone tenor, flauta, saxofone tenor solo (3); Donny McCaslin: saxofone tenor, clarinete, saxofone tenor solo (4); Scott Robinson: saxofone barítono, clarinete, clarinete baixo, clarinete solo (2); Tony Kadleck: trompete, flugelhorn; Jason Carder: trompete, flugelhorn; Laurie Frink: trompete, flugelhorn; Ingrid Jensen: trompete, flugelhorn, flugelhorn e trompete solo com efeitos eletrônicos (1); Keith O'Quinn: trombone; Ryan Keberle: trombone; Marshall Gilkes: trombone; George Flynn: trombone baixo, trombone contrabaixo; Ben Monder: violão; Frank Kimbrough: piano; Jay Anderson: baixo; Clarence Penn: bateria; Gary Versace: acordeão (1, 2, 4), acordeão solo (4); Luciana Sousa: voz (1, 4); Gonzalo Grau: cajon, palmas, percussão (2), percussão (4); Jon Wikan: cajon, palmas (2), percussão (3, 4).

Faixas de Sky Blue:
01. The 'Pretty' Road [Schneider] 13:28
02. Aires de Lando [Schneider] 10:00
03. Rich's Piece [Schneider] 9:34
04. Cerulean Skies [Schneider] 21:57

05. Sky Blue [Schneider] 8:08

Ouça um pouco do álbum no site oficial de Maria Schneider.



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Vídeo
de Maria Schneider falando sobre o projeto Sky Blue:


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