“Milestone” é outra canção que faz uso de outro recurso não comum ao jazz: o canto lírico. O soprano Alicia Hall Moran, esposa de Jason, faz o contraponto entre a musicalidade das ruas mostrada na faixa anterior e a das salas de concerto. Através dos recursos de Moran ao piano e – muito – do guitarrista Marvin Sewell, além da base rítmica de Waits e Mateen, a canção consegue seguir sua direção muito bem marcada pelas notas do pianista.
O piano solo de Moran em “Cradle Song” encontra sons sobrepostos, que por vezes parecem passos ou ranhuras em uma superfície. O fato é que a bela melodia é introspectiva e não sofre variações em sua estrutura e que Moran segue inventivo em sua intenção de misturar jazz com qualquer outra coisa, nem que seja apenas barulho! Exatamente como ele faz nessa canção.
“Artists Ought To Be Writing” é a primeira oração do discurso que inicia essa canção, que trata do papel do artista na sociedade. À medida que a voz sampleada de Adrian Piper vai perdendo intensidade, o piano de Moran cresce em uma intrincada e rica melodia. Ao sobrepor o instrumento ao discurso, o compositor indica que o artista ganha sua força com a obra em si, que o recurso do debate artístico é importante, porém esse não existiria sem os criadores e seus produtos.
“Refraction 1” é outra peça experimental de Moran, que toca uma melodia bem marcada em seu tema central, enquanto Joan Jonas faz uso de percussão, sinos, shakers e outros objetos/instrumentos para obter um efeito semelhante ao barulho urbano e ao ruído das ruas. A sonoridade de Moran parece sempre atravessada pelo barulho que não pode ser contido, pela falta de sossego das cidades grandes, onde o som de um piano parece atrapalhar a rotina do ir e vir de milhares de pessoas, onde as notas musicais parecem agredir a balbúrdia.
A mais longa canção do álbum, “Rain”, traz os recursos percussivos (djembe, kora) de Abdou Mboup, associados ao dedilhar do violão de Sewell, enquanto o trompetista Ralph Alessi conduz uma melodia com tons melancólicos, que ao ganhar dinamismo e velocidade, muda completamente o rumo musical. A bateria de Waits, o baixo de Mateen e o piano de Moran puxam um post-bop vigoroso e empolgante que atinge o ápice de todo o álbum.
“Lift Ev'ry Voice and Sing” apresenta uma agradável confluência de todos os instrumentos através de uma canção que adiciona um pouco mais de balanço e tem na guitarra de Sewell um destaque, pois o instrumento parece simular as vozes que se erguem e cantam, conforme sugere o título da faixa.
A décima e última faixa do álbum é “He Puts on His Coat and Leaves”, na qual Moran, novamente solo ao piano, executa com muita precisão um tema introspectivo com ares de despedida e muita beleza artística. São quase cinco minutos que passam tão rápido, mas que deixam a vontade de ouvir um pouco mais dessa adorável melodia, mas como nos indica o título, já é hora de vestir o casaco e partir.
Jason Moran: piano;
Marvin Sewell: guitarra (1, 2, 3, 8, 9);
Tarus Mateen: baixo (1, 2, 3, 8, 9);
Nasheet Waits: bateria (1, 2, 3, 8, 9);
Alicia Hall Moran: vocais (2);
Adrian Piper: voz sampleada (1, 5);
Joan Jonas: percussão, efeitos sonoros, sinos, claves, shaker (6);
Abdou Mboup: djembe, kora, talking drum (8);
Ralph Alessi: trompete (8).
Faixas de Artist in Residence:
01. Break Down [Moran] 3:17
02. Milestone [Moran] 3:34
03. Refraction 2 [Moran] 3:52
04. Cradle Song [VanWeber] 4:27
05. Artists Ought to Be Writing [Moran] 3:49
06. Refraction 1 [Moran] 6:16
07. Arizona Landscape [Moran] 3:07
08. Rain [Moran] 11:53
09. Lift Ev'ry Voice and Sing [Johnson, Johnson] 4:53
10. He Puts on His Coat and Leaves [Moran] 4:52
Ouça um pouco de Artist in Residence no site da gravadora Blue Note.
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