Nascidaem Tel Aviv, Israel, a saxofonistatenor, soprano e clarinetista Anat Cohen é figuraconhecida e celebrada na cena jazzística de Nova York desde 1999. Entusiasta da músicabrasileira, colombiana e afro-cubana, ela estudou e tocou comváriosmúsicossul-americanos e conseguiu integrarcomgraça e naturalidade essas influênciasemseujazz. Emseuprimeiro CD, Place & Time, lançado em 2005 pela gravadora Anzic, Anat Cohen já demonstra seu amadurecimento musical e qualidades artísticas apuradas.
“Place & Time”, a cançãoque dá nome ao álbum, é a faixa de abertura do CD, que tem suabelamelodiamuitobem delineada peloelegantesopro de Anat Cohen emseusaxtenor, enquantomuitobem acompanhada pelonãomenosdistinto e delicadopianista Jason Lindner. Ótimaescolhaparafaixa de abertura.
“The 7th of March” encontralugarem uma belafusão de jazzcomtango e percussão e latinidade! O melhor dessa mistura é quetudo soa muitobem e de maneiramuitoharmoniosa. O baixobem marcado de Ben Street casacertocom a bateria de Jeff Ballard parajuntos estabelecerem a seção rítmica que engrandece o piano de Lindner e ganha apurado sensoestéticograças a Anat.
A fusão de estilos musicais continua no belotango “Veinte Años” compostopela cubana Maria Teresa Vera, no qual Anat ao clarinete conduz o grupopor uma envolvente melodia recheada de sensualidade e delicadeza. A canção “87 North” tem o trompetista Avishai Cohen, irmão de Anat, comoconvidadoespecial (não há qualquerrelaçãoentreele e o baixista de mesmonome). Comumritmobem marcado pelas sonoridades porbaixo e bateria, a saxofonista pode fazerumagradávelsoloqueencontra o trompete sofisticado de Avishai, enquanto o Lindner dá umespetáculo à parte no acompanhamento.
Ao gravar “Say It” de Loesser & McHugh, Anat mostra a suaveialíricacomintensidadeem uma versãoquepouco remete à belíssima gravaçãoque o quarteto de John Coltrane fez para essa música no álbumBallads de 1962. Emvez de apostar na introspecçãocomo fez Coltrane no passado, Anat permite maisbalanço à cançãocomsolosintensos. Todo o grupo fez umótimotrabalhocom essa canção.
“Homeland” é caracterizada pelamelodiasuave e agradávelcomumquê de cena de filme de casais apaixonados. Ok, isso é muitosubjetivo, mas de fato os irmãos Cohen conseguem transformar uma cançãosemsurpresas e linearemalgoprazeroso de acompanhar da primeira à últimanota.
A intensidade do bop se faz presente na enérgica “As Catch Can”, compostapor Gerry Mulligan. O ritmogalopanteimpostopor Ballard e Street e a fluidez comque Anat sopraseusaxtenor marcam essa ótimaversão. Ao ouvir essa faixa fiquei com a impressãoque o trompete de Avishai foi gravado emumvolumemaisbaixo, o que pode caracterizar alguma falha na captação do som, aindaassim, nadaque comprometa.
O tom melancólico e introspectivosão facilmente reconhecíveis em “Pour Toi”, uma canção traz umsoloprofundo e cheio de sentimentos de Anat. Soando umpoucocomoumlamento, umpoucocomo uma resignação, a música traz emsuaestrutura a imagem melancólica do velhoestereótipojudeu do sujeito sofrido.
Emabsolutocontrastecom a faixaanterior, “Bat-El” é uma contagiantecançãocominfluência cubana. A mistura rítmica consegue alcançarumótimoresultado, que é fruto da precisão de Ballad e Street que conduzem o ritmocomo se fossem legítimosfilhos da ilha de Castro, de Lindner com o seu dedilhado sofisticado ao piano e da energiaharmônica dos irmãos Anat e Avishai, que executam duetos de complementaridade combinando cadaagudo solto ao ar.
Esseque é apenas o debut de Anat Cohen já se mostra uma obra consistente de relevantepadrãoestético. Anat não é inovadora emsuamaneira de tocar, porém é excelente no que faz, que é extrairmelodiaslimpascommuitabeleza. Umálbumpara se ouvir muitas vezes.
Faixas de Place & Time: 01. Place & Time [Cohen] 5:40 02. The 7th of March [Cohen] 6:07 03. Veinte Años [Vera] 4:59 04. 87 North [Cohen] 8:04 05. Say It [Loesser, McHugh] 8:38 06. Homeland [Cohen] 6:39 07. As Catch Can [Mulligan] 3:22 08. Pour Toi [Cohen] 4:39 09. Bat-El [Cohen] 8:21
Natural de Porto Alegre, estou desde 2005 em Florianópolis. Cursei Licenciatura em Letras (Inglês/Português) por quatro anos na UFRGS. Foi nessa época que surgiu o meu interesse por jazz. Posteriormente abandonei o curso para ingressar na faculdade de Psicologia na UFSC. Meu amor pela música é intenso, bem como minha curiosidade pelo novo. Depois de muito ouvir "dinossauros" como Mingus, Coltrane, Miles, Parker, Monk e outros, quis descobrir novos talentos. São algumas dessas descobertas que compartilho neste blog.
Um comentário:
Essa guria manda bem. Espero ouvi-la em Ouro Preto, em setembro. Também publiquei algo lá no jazzigo (jazz back'yard)
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