segunda-feira, 14 de julho de 2008

A face tragicômica de Vijay Iyer

Tragicomic é o título do novo álbum do pianista hindu-americano Vijay Iyer lançado em abril de 2008 pela gravadora Sunnyside. Eleito como primeira estrela em ascensão entre os pianistas de jazz e primeira estrela como compositor pela pesquisa dos críticos internacionais da revista Downbeat em 2006 e 2007, Iyer retoma sua carreira como líder depois de se aventurar em vários outros projetos.

O novo álbum traz 12 faixas, sendo 9 composições do próprio Iyer, com destaques para "Macaca Please", "Aftermath", "Age of Everything", "Threnody", "Becoming". Mesclando velocidade com suavidade, Tragicomic alterna uma sonoridade agressiva com toques de belo lirismo. Embora não tão denso quanto em seus álbuns anteriores Iyer, demonstra sua elegância ao dedilhar as teclas de seu piano com energia e precisão. O que é tragicômico nesse álbum? À primeira vista o fato de Iyer ter colocado o piano à frente dos demais instrumentos e não ao lado para explorar a
força do conjunto como um todo como em seus CDs anteriores como Reimagining e Panoptic Modes. O que se ouve então é um quarteto soando diferente, mas diferente não significa mal. Tragicomic é um grande álbum, que investe menos na sonoridade indiana das raízes do pianista para arriscar mais nas levadas do piano e das bem colocadas batidas do baterista Marcus Gilmore, que emprega um ritmo mais pesado, que por vezes consegue fazer um belo contraponto com a suavidade que Iyer emprega em determinados momentos como na faixa "Window Text". O baixista Stephan Crump está muito bem colocado nestas gravações e dá ao grupo um belo acabamento, fazendo com que a sonoridade fique muito bem fechada. Confesso que senti falta de mais participação do excelente alto saxofonista Rudresh Mahanthappa, de quem sou fã. "Machine Days" é a faixa que Mahanthappa encontra melhor espaço dentro do álbum. Nos discos anteriores de Iyer, com mais influências de world music, o sax era um destaque tão -- e por vezes mais -- importante quanto o piano. A mudança de sonoridade nas composições de Iyer deixaram o fabuloso Mahanthappa um pouco de lado.

"Comin' Up", composição de Bud Powell, é uma demonstração clara de como Vijay Iyer consegue seguir com seus experimentalismos e incursões por músicas étnicas sem se esconder em novas roupagens do jazz. Nessa canção, ele mostra que tem talento para ser um grande pianista em qualquer época.

Vijay Iyer é um dos expoentes do jazz do século XXI. Tragicomic marca uma mudança de sonoridade para o artista, que somente nos próximos anos saberemos se foi o melhor caminho a ser seguido. Por ora, este é um disco altamente recomendável para os leitores deste blog.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Vijay Iyer: piano;
Rudresh Mahanthappa: saxofone alto;
Stephan Crump: baixo;
Marcus Gilmore: bateria.

Faixas de Tragicomic:
01. The Weight of Things [Crump, Gilmore, Iyer, Mahanthappa] 2:17
02. Macaca Please [Iyer] 4:54
03. Aftermath [Iyer] 6:20
04. Comin' Up [Powell] 4:22
05. Without Lions [Iyer] 2:54
06. Mehndi [Iyer] 6:50
07. Age of Everything [Iyer] 5:24
08. Window Text [Iyer] 5:43
09. I'm All Smiles [Leonard] 4:44
10. Machine Days [Iyer] 7:28
11. Threnody [Iyer] 6:08
12. Becoming [Iyer] 3:38


Ouça Tragicomic no site do próprio Vijay Iyer.

Ouça um pouco do álbum na amazonmp3:


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Vijay Iyer divide a capa da edição de julho da Downbeat com Jason Moran e Matthew Shipp:

Um comentário:

Aluizio Amorim disse...

Salve, Pablo!
Boa idéia um blog para falar de jazz, especializando-se nos novos talentos que continuam aparecendo, evidentemente. O Miles deve ter exagerado na dose de entorpecentes que consumia adoiado no dia em que decretou a morte do jazz...hehehe...
Discordo quando você fala que os gênios do jazz são dinossauros.
Pressinto que por muito tempo não aparecerão gênios do jazz. Aliás, é bem possível que nem apareçam mais. O que tem surgido por aí é arraia miúda. Por enquanto torço para que talentos novos apareçam. Mas eu disse talentos. A música é uma expressão artística. Se uma composição se transforma num standard, temos aí, seguramente, uma obra de arte. Se não ocorrer isso, temos um lixo sonoro...hehehe
Acredite: 99% do que é gravado em todo o mundo é lixo. E os verdadeiros talentos são raríssimos em todas as artes. A música não escapa.
No mais, desejo sucesso para vôcê com o blog. Achei a idéia muito interessante de falar dos novos no jazz. Promete! O que você tem é que postar com freqüência. Não faltará material.
Abração. Nos encontramos lá na Saraiva onde vou atrás de uns CDs.