sábado, 19 de julho de 2008

As trilhas de Coleman rumo à inovação

Steve Coleman é uma daquelas figuras do jazz que serão lembradas por criar algo novo dentro deste gênero musical. Importante referência no jazz atual, Coleman é um dos fundadores do movimento M-Base (“macro-basic array of structured extemporization” ou macro-básico arranjo de improvisação estruturada), que consiste em uma extensão do free funk de Ornette Coleman com maiores lacunas na música, imprevisíveis ritmos funk e uma nova lógica de solar, definindo-se em uma complexa teorização musical de integrar funk, soul, world music e jazz.

No álbum On the Rising of the 64 Paths, lançado em 2003 pela gravadora Label Bleu, Steve Coleman And The Five Elements fizeram um grande trabalho que será apreciado por quem prestar bastante atenção ao som do grupo. Recém chegados ao jazz devem ter dificuldades com esse álbum.

Na primeira faixa do CD, “64 Path Bindings”, o sax alto de Coleman e a bateria de Sean Rickman parecem seguir uma direção mais frenética como quem anseia por chegar, a flauta sem pressa de Malik Mezzadri segue sabendo que o destino não fugirá, o baixo acústico de Reggie Washington faz o cenário, enquanto o baixo elétrico de Anthony Tidd marca um tempo diferente com grandes espaços como se tocasse só. Mesmo dissonante em uma primeira ouvida, todos os instrumentos se encontram em meio a tanta diferença e fazem dessa uma gostosa canção para se ouvir com atenção.

“Mist and Counterpoise” apresenta uma bela ambientação solene, que é disfarçada por um solo elegante do sax alto. Os dois baixos fazem uma bela contraposição, pois enquanto o acústico, aliado ao trompete, mantém o ritmo lento da canção, o elétrico acompanha o sax e flauta na bela melodia produzida por Coleman e Mezzadri.

As vocalizações ao modo Oriente Médio de Mezzadri que abrem “Call for Transformation” são as mesmas que encerram, mostrando o movimento cíclico na canção, que tem um tema muito bem marcado e constante com os baixos e o trompete. Não apenas nesta canção, mas em quase todo o álbum, as composições de Coleman provam que o baixo acústico de Washington e o trompete de Jonathan Finlayson conseguem suprir a falta de um piano no sexteto.

“The Movement in Self” é introspectiva e abusa nas lacunas e espaços deixados na música. Rickman, Washington e Tidd dão o ritmo lento, mantendo o ouvinte em suspense, enquanto Coleman faz o jogo de oferecer e esconder a melodia. Uma grande canção que requer dedicação do ouvinte para compreender todas as nuances que o grupo fornece.

A única canção do álbum que não foi composta por Coleman é “Dizzy Atmosphere”, de Dizzy Gillespie., e que nesse momento soa quase como uma provocação, afinal depois de tantas melodias lentas, por vezes arrastadas, a versão enérgica tocada pela banda contrapõe tudo queem On the Rising of the 64 Paths. Coleman parece dizer que seu macro-básico arranjo de improvisação estruturada integra tão bem o bebop quanto o funk, os ritmos latinos e sons étnicos.

Com “Eight Base Probing” o grupo apresenta um tema contínuo que mostra a beleza da integração entre o sax alto, o trompete e a flauta tanto quando desenvolvem o mesmo tema como quando se destacam para solar. O sexteto consegue levar a música a um ponto alto ao rumar em direção às fronteiras do hard bop, do funk e do free jazz, mas sem nunca ultrapassá-las. Talvez por ser uma das canções mais acessíveis do álbum, este seja um de seus destaques.

“Fire Revisited” é uma experimentação musical que, primeiramente, nasce da concordância de todos tocarem o mesmo tema repetidamente até que o baixista acústico Washington é abandonado na tarefa de seguir com o mote para que os demais possam desenvolver seus solos até que o próprio Washington abandona o tema e deixa o baixo elétrico de Tidd levar a canção até um hiato de mais de dois minutos. Depois é surpresa de Coleman e não serei eu que irei estragá-la contando.

Faixas de On the Rising of the 64 Paths:
01. 64 Path Bindings [Coleman] 6:58
02. Mist and Counterpoise [Coleman] 6:42
03. Call for Transformation [Coleman] 10:43
04. The Movement in Self [Coleman] 6:16
05. Dizzy Atmosphere [Gillespie] 6:07
06. Eight
Base Probing [Coleman] 12:47
07. Dizzy Atmosphere (alternate take) [Gillespie] 7:09
08. Fire Revisited [Coleman] 13:37

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5 comentários:

Salsa disse...

Valeu a visita ao nosso quintal, brô. É sempre bom saber que tem mais gente que curte jazz.
Passarei por aqui para deixar meus comentários sobre os posts. Depois eu "linkarei" seu blog.
Abraços

John Lester disse...

Parabéns pela iniciativa. Sucesso e vida longa ao Jazz XXI.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blogue! Acho o conceito que encontrou muito interessante e pertinente. É tempo de olhar para o presente e para o futuro.

Anônimo disse...

Bacana o Blog, Pablo ! VOu colocar o link no meu !

Abração, Daniel

Anônimo disse...

Não seria tão extremista quanto o companheiro acima.Pra apreciar o presente e vislumbrar o futuro e preciso receber as experiências do passado.Sempre é bem-vindo um novo blog de jazz.Cada um com sua própria orientação e algo a acrescentar.Edú.