terça-feira, 16 de setembro de 2008

A vida noturna em Tóquio segundo Eric Alexander

Em 2003 a gravadora Milestone lançou o álbum Nightlife in Tokyo do saxofonista tenor Eric Alexander. Inicialmente conhecido por ter conquistado o segundo lugar na competição de sax do Thelonious Monk Institute em 1991, atrás apenas de Joshua Redman, Alexander se firma hoje como uma importante figura do jazz atual. Sem ser um vanguardista, seu estilo consegue aliar classe e força em um hard bop de primeira qualidade. Nightlife in Tokyo, gravado em estúdio, apesar do título poder indicar um registro ao vivo, é essencial para quem quer ir além dos grandes titãs que construíram a imagem – e o som – do jazz.

Os belos fraseados do sax tenor Eric Alexander na faixa de abertura, “Nemesis”, são marcas de qualidade na canção, que conta com uma seção rítmica muito bem entrosada composta pelo lendário baixista Ron Carter, pelo baterista Joe Farnsworth e pelo também lendário pianista Harold Mabern. Esse trio dá todo o suporte para Alexander mostrar o porquê de ser um músico tão aclamado por público e crítica atualmente. Seu hard bop que remete a boas lembranças de saxofonistas do passado (um quê de Dexter Gordon), tem energia própria e consegue a difícil missão de juntar muito vigor com lirismo. Essa canção nasceu com vocação para se tornar um standard do século XXI.

A interpretação de um standard jazzístico como “I Can Dream, Can't I?” reitera o lado lírico e melodioso de Alexander. O belo entrosamento do quarteto mais uma vez se sobressai. Destaque para o belo diálogo entre o baixo de Carter que sola com o acompanhamento do piano de Mabern para depois inverter a posição, quando Carter faz a base para o solo de Mabern. Alexander fica responsável por fazer a ligação entre as duas pontas da melodia ao retomar o tema central ao término da canção.

“Nightlife in Tokyo”, a faixa que dá nome ao álbum, mostra dinamismo através da condução mais acelerada de Farnsworth e Carter, enquanto Alexander tem liberdade para solar. O piano de Mabern que vinha servindo de apoio passa ao primeiro plano para retomar o fraseado principal e propor outros em uma execução de muita competência. Um dos méritos do saxofonista é conseguir “grudar” o tema principal da canção na cabeça do ouvinte, pois esse motivo é sempre retomado durante a canção entre os solos.

“I'll Be Around”, balada composta por Alec Wilder, ganha uma bela interpretação pelo quarteto. Definitivamente, essa é uma faixa gravada para o líder brilhar, pois Carter e Farnsworth conduzem o ritmo, Mabern acompanha com um característico espaçamento, enquanto Alexander assume a frente na melodia por boa parte da canção, cedendo esse espaço por pouco tempo para o piano.

A peculiaridade de “Cold Smoke” é que ela inicia com um motivo que parece encerrar a canção, como se o ouvinte chegasse com o trabalho já em andamento. Então, a canção revive puxada por Farnsworth, que logo é acompanhado por Mabern e Carter, que sustentam a base para o solado de Alexander. O piano também recebe um belo destaque com a classe de Mabern em seu solo. O que se tem no geral é um belo exemplo de hard bop bem executado, que alia impetuosidade e técnica. A canção flui tão naturalmente que parece uma jam session, na qual cada músico soa tão espontâneo, que esse material parece ter surgido no momento da gravação.

“Island” é uma boa canção apesar de sua simplicidade. O ritmo inicial com sua levada de fácil acompanhamento propicia o desenvolvimento do solo limpo e swingado de Mabern e do solo de Alexander, que alterna fraseados curtos e longos com vários espaçamentos.

Composta por Eric Alexander em homenagem ao baixista Ron Carter, o quarteto interpreta “Big R. C.” com uma levada ótima cheia de balanço e uma cara de década de 1950. O ritmo post-bop envolvente propiciado por Farnsworth e Carter em diálogo com o piano de Mabern é o destaque da canção, que conta ainda com um solo refinado e melodioso de Alexander, que remete àquela ternura por vezes só encontrada em Dexter Gordon ou Lester Young. Com certeza é um dos pontos altos do álbum.

A canção que encerra o álbum, “Lock Up and Bow Out”, retoma o frenesi encontrado em outros momentos do CD, e, assim como “Cold Smoke”, parece uma jam session fruto de criação espontânea. A liberdade dos músicos do quarteto está declarada e eles estão dispostos a improvisar sem perder a coesão.

Eric Alexander é um grande saxofonista tenor mais propício ao hard bop que conta com um refinado senso de melodia. Ele sabe até onde levar o som de seu sax sem incorrer em exageros, que o fariam mais parecer como um imitador de grandes instrumentistas do passado; no entanto, ele consegue ter voz própria. Acompanhado por ótimos músicos, Alexander mostra seu valor em Nightlife in Tokyo não apenas como saxofonista, mas também como compositor, pois seu trabalho é consistente e de grande qualidade. Esse álbum é obrigatório para quem quer ficar interado com o que de melhor ocorre no jazz do século XXI.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Eric Alexander: saxofone tenor
Harold Mabern: piano
Ron Carter: baixo
Joe Farnsworth: bateria

Faixas de Nightlife in Tokyo:
01. Nemesis [Alexander] 8:00
02. I Can Dream, Can't I? [Fain, Kahal] 7:59
03. Nightlife in Tokyo [Mabern] 6:36
04. I'll Be Around [Wilder] 7:59
05. Cold Smoke [Alexander] 8:25
06. Island [Alexander] 7:40
07. Big R.C. [Alexander] 6:17
08. Lock Up and Bow Out [Alexander] 5:32

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