domingo, 31 de agosto de 2008

A residência artística de Jason Moran

As composições de Artist in Residence, lançado em 2006 pela gravadora Blue Note, são trabalhos produzidos pelo pianista Jason Moran para três institutos de arte: o Walker Art Center em Minneapolis, o Dia Art Foundation e o Jazz at Lincoln Center. Extremamente criativo e com um olhar voltado para as inovações, Moran sempre soa diferente do Moran de seus álbuns anteriores. Neste especificamente, o pianista e compositor leva o jazz ao encontro do hip-hop, do canto lírico e do barulho urbano, provocando desde estranhamento até deleite. Constituindo-se em uma importante figura para o jazz do século XXI, Moran mostra em Artist in Residence que o jazz pode ir pelos caminhos que a criatividade o conduzirem.

O álbum inicia a partir de uma fusão de jazz com hip-hop chamada “Break Down”, que traz palavras de protesto e samples de Adrian Piper, em um ritmo marcado e constante, com a contribuição do baterista Nasheet Waits, enquanto o pianista Jason Moran leva a melodia por um caminho mais criativo em parceria com o baixista Tarus Mateen. É inegável que essa mistura não está no ponto certo, pois ao ouvinte parece que duas canções diferentes estão tocando juntas, como se você quisesse ouvir rap e alguém ligasse um aparelho que tocasse um jazz post-bop ao mesmo tempo... ou vice-versa. Enfim, a canção causa estranheza de início, o que é uma ousadia de Moran abrir o álbum com ela, mas momentos de brilho surgem ao dedilhar do piano.

“Milestone” é outra canção que faz uso de outro recurso não comum ao jazz: o canto lírico. O soprano Alicia Hall Moran, esposa de Jason, faz o contraponto entre a musicalidade das ruas mostrada na faixa anterior e a das salas de concerto. Através dos recursos de Moran ao piano e – muito – do guitarrista Marvin Sewell, além da base rítmica de Waits e Mateen, a canção consegue seguir sua direção muito bem marcada pelas notas do pianista.


“Refraction 2” vai adicionando os elementos aos poucos, primeiro o baixo, depois o piano, bateria e guitarra, em uma canção que vai se construindo sobre uma base rítmica constante e uma liberdade de improvisação de Moran, que logo é seguido por Sewell, que por sua vez toma outra direção, bem como Waits, enquanto Mateen fica sendo o responsável por manter o que foi erguido no início. Um belo trabalho, no qual pode-se apreciar um quarteto dando muito de si (e para si) sem seguir um só caminho. O ouvinte pode escolher por qual seguir ou tentar acompanhar todos se uma vez – se conseguir! Uma boa canção para se ouvir muitas vezes e aprender todas as rotas.

O piano solo de Moran em “Cradle Song” encontra sons sobrepostos, que por vezes parecem passos ou ranhuras em uma superfície. O fato é que a bela melodia é introspectiva e não sofre variações em sua estrutura e que Moran segue inventivo em sua intenção de misturar jazz com qualquer outra coisa, nem que seja apenas barulho! Exatamente como ele faz nessa canção.

“Artists Ought To Be Writing” é a primeira oração do discurso que inicia essa canção, que trata do papel do artista na sociedade. À medida que a voz sampleada de Adrian Piper vai perdendo intensidade, o piano de Moran cresce em uma intrincada e rica melodia. Ao sobrepor o instrumento ao discurso, o compositor indica que o artista ganha sua força com a obra em si, que o recurso do debate artístico é importante, porém esse não existiria sem os criadores e seus produtos.


“Refraction 1” é outra peça experimental de Moran, que toca uma melodia bem marcada em seu tema central, enquanto Joan Jonas faz uso de percussão, sinos, shakers e outros objetos/instrumentos para obter um efeito semelhante ao barulho urbano e ao ruído das ruas. A sonoridade de Moran parece sempre atravessada pelo barulho que não pode ser contido, pela falta de sossego das cidades grandes, onde o som de um piano parece atrapalhar a rotina do ir e vir de milhares de pessoas, onde as notas musicais parecem agredir a balbúrdia.


“Arizona Landscape” é um belo solo de Moran ao piano, que sustenta o ritmo com uma mão e expande a melodia com a outra. Uma agradável canção, que faz o ouvinte nem sentir falta de um baixo e de uma bateria, pois sozinho o pianista consegue preencher todos os espaços.

A mais longa canção do álbum, “Rain”, traz os recursos percussivos (djembe, kora) de Abdou Mboup, associados ao dedilhar do violão de Sewell, enquanto o trompetista Ralph Alessi conduz uma melodia com tons melancólicos, que ao ganhar dinamismo e velocidade, muda completamente o rumo musical. A bateria de Waits, o baixo de Mateen e o piano de Moran puxam um post-bop vigoroso e empolgante que atinge o ápice de todo o álbum.


“Lift Ev'ry Voice and Sing” apresenta uma agradável confluência de todos os instrumentos através de uma canção que adiciona um pouco mais de balanço e tem na guitarra de Sewell um destaque, pois o instrumento parece simular as vozes que se erguem e cantam, conforme sugere o título da faixa.


A décima e última faixa do álbum é “He Puts on His Coat and Leaves”, na qual Moran, novamente solo ao piano, executa com muita precisão um tema introspectivo com ares de despedida e muita beleza artística. São quase cinco minutos que passam tão rápido, mas que deixam a vontade de ouvir um pouco mais dessa adorável melodia, mas como nos indica o título, já é hora de vestir o casaco e partir.


Definitivamente Artist in Residence é um álbum que exige bastante familiaridade do ouvinte com jazz, pois Jason Moran não apenas compôs canções para preencher uma gravação, mas fez questão de experimentar novos rumos para o jazz em uma tentativa de expandir suas fronteiras até um ponto em que se questione se o que é tocado realmente é jazz. E é jazz o tempo todo, mas não apenas jazz, pois é jazz e algo mais. A mente criativa de Moran é responsável por um álbum de grande valor artístico, ainda que possa não ser totalmente apreciado inicialmente, pois exige um pouco mais do ouvinte.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Jason Moran: piano;
Marvin Sewell: guitarra (1, 2, 3, 8, 9);
Tarus Mateen: baixo (1, 2, 3, 8, 9);
Nasheet Waits: bateria (1, 2, 3, 8, 9);
Alicia Hall Moran: vocais (2);
Adrian Piper: voz sampleada (1, 5);
Joan Jonas: percussão, efeitos sonoros, sinos, claves, shaker (6);
Abdou Mboup: djembe, kora, talking drum (8);
Ralph Alessi: trompete (8).

Faixas de Artist in Residence:
01. Break Down [Moran] 3:17
02. Milestone [Moran] 3:34
03. Refraction 2 [Moran] 3:52
04. Cradle Song [VanWeber] 4:27
05. Artists Ought to Be Writing [Moran] 3:49
06. Refraction 1 [Moran] 6:16
07. Arizona Landscape [Moran] 3:07
08. Rain [Moran] 11:53
09. Lift Ev'ry Voice and Sing [Johnson, Johnson] 4:53
10. He Puts on His Coat and Leaves [Moran] 4:52

Ouça um pouco de Artist in Residence no site da gravadora Blue Note.

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sábado, 23 de agosto de 2008

Traga o seu chapéu para a festa de Will Bernard

Lançado em 2007 pela gravadora Palmetto, o álbum Party Hats do guitarrista Will Bernard é uma boa opção para quem gosta de um tipo de jazz que extrapola os seus próprios limites. A sonoridade disposta nesse CD é alicerçada na soul music, no jazz-funk e no fusion. Apesar de sua qualidade, tenho certeza que esse álbum não irá agradar àqueles que abominam misturas de jazz com outros gêneros musicais. Aviso: nem tudo que você ouvirá nesse CD é jazz. Mente aberta é necessária para seguir adiante. Você foi avisado!

A começar pela primeira faixa de Party Hats, “Share the Sea”, prepare-se para ouvir uma gostosa fusão de jazz com funk e soul que se mantém até o final do álbum. Essa canção inicial tem muito balanço obtido principalmente pela ginga de Will Bernard com sua guitarra e pelo Hammond B3 de Wil Blades, que são muito bem escorados no baixo de Keith McArthur, na percussão de Josh Jones e na bateria de Jan Jackson. Os sopros e metais, nos quais incluem-se aí o sax alto de Cochemea Gastelum, o sax tenor de Joe Cohen, o trompete de Mike Olmos e o trombone de Adam Theis, trabalham tanto com solos distorcidos, mas complementares, quanto marcando um tema central na canção. O resultado é muito balanço e uma vontade muito grande de se mexer.

“White Elephant Sale” tem um ritmo constante, no qual o baixista Ryan Newman e o baterista Jackson fornecem as bases para os solos suingados de Bernard com sua guitarra e de Cohen no sax tenor. Uma canção apenas para compor o disco.

“Ripple Sole” começa com um solo de sax tenor de Peter Apfelbaum, que parece ser um chamado para que os demais músicos adentrem a canção. O que se tem, então, é muito balanço com o hammond B3 de Michael Bluestein, que dá a entrada para um ótimo solo de guitarra de Bernard. As batidas mais pesadas de Paul Spina na bateria dão o ritmo certo para essa canção, que é reconhecidamente um fusion para ser respeitado. Um dos pontos altos do álbum.

Bernard e Blades fazem um dueto à reggae em “Leo’s Cat”, mostrando as influências da world music nas composições do guitarrista. O ritmo lento e cadenciado da canção dá a liberdade para Bernard solar longamente com muita ginga, enquanto Blades faz a complementação e deixa o som mais encorpado com seus efeitos eletrônicos.

A canção que dá nome ao álbum, “Party Hats”, é um bom trabalho coletivo do grupo que tem no ritmo marcado por Jackson e Newman a sustentação para os solados de Bernard e Cohen. Uma canção agradável certamente, mas que não traz surpresas nem brilho.

“Afro Sheen” tem muito balanço a começar pelo estilo mais rápido e pesado de Spina na bateria, pelo swing natural de Bernard nas seis cordas e pelo acompanhamento preciso de Blades, enquanto os metais e sopros com Cohen, Apfelbaum, Olmos e Theis, cada a seu tempo, dão dinamismo à canção e seus breves solos são perfeitamente integrados ao som do grupo. Uma lição de como suingar sem perder o foco na melodia motriz.

Composta por Bernard, Jackson e McArthur, “Chin Up” tem no seu ritmo denso a inclusão dos sopros e metais para compor a levada funky da canção, uma vez que esses instrumentos participam quase vinhetando, até que o trompete de Olmos e o trombone de Theis juntam-se a uma fusão do hammond B3 de Blades com o piano elétrico de Bluestein que levam a melodia a uma quase erupção, causando um crescendo empolgante que se dilui por ele mesmo como uma tempestade que desvia de sua rota.

“Newbie” é um fusion com cara de anos 1970. A baquetadas de Spina dão uma cara mais rockeira para essa canção, que só se confirma com o som do hammond B3, que lembra algo já feito pelo Uriah Heep em algum lugar do passado. O solo agradável de Bernard, mais uma vez cheio de balanço, confirma o que foi dito anteriormente. O saldo final é positivo, pois ao ater-se ao próprio swing, os músicos foram econômicos e não partiram para solos dispersivos que poderiam descaracterizar a canção.

“Foldind Green”, fortemente marcada pela soul music e por elementos funk, encontra no dueto de Bernard e Blades o seu ponto alto. A adição de Dave Ellis no sax tenor dá à canção um gostoso contraponto entre o sopro e o elétrico, mas que poderia ter sido mais explorada. “Rattle Trap” traz alguns dos mesmos elementos da canção anterior, porém dá mais liberdade a Ellis para solar, o que ele faz com muito vigor.

“Penske” retoma a sonoridade mais rockeira com uma base rítmica pesada liderada por Jackson e Newman, que sustenta o avanço de Blades com o seu solo do álbum, enquanto Bernard puxa a melodia impondo seu balanço. Mais uma vez temos um bom momento de fusion em quarteto.


Party Hats recebeu a indicação para o Grammy 2007 como melhor álbum de jazz contemporâneo. Com grandes momentos de muito balanço e descontração, infelizmente, o álbum começa a se tornar repetitivo quando se aproxima do seu final. De qualquer modo, dá uma boa noção de quanto Will Bernard pode se desenvolver como compositor e contribuir para o avanço do jazz no século XXI.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Will Bernard: guitarra
Wil Blades: hammond B3
Keith Mcarthur: baixo (1, 7)
Ryan Newman: baixo (2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11)
Jan Jackson: bateria (1, 2, 4, 5, 7, 11)
Paul Spina: bateria (3, 6, 8, 9, 10)
Cochemea Gastelum: saxofone alto (1)
Joe Cohen: saxofone tenor (1, 2, 5, 6, 7)
Peter Apfelbaum: saxofone tenor, qarqabas, melodica (3, 6, 7)
Dave Ellis: saxofone tenor (9, 10)
Mike Olmos: trompete (1, 6, 7)
Adam Theis: trombone (1, 6, 7)
Josh Jones: percussão (1, 4, 5, 6, 7)
Michael Bluestein: hammond B3 e piano elétrico (3, 7)

Faixas de Party Hats:
01. Share the Sea [Bernard] 5:36
02. White Elephant Sale [Bernard] 4:16
03. Ripple Sole [Bernard] 6:31
04. Leo's Cat [Bernard] 6:19
05. Party Hats [Bernard] 5:05
06. Afro Sheen [Bernard] 6:55
07. Chin Up [Bernard, Jackson, McArthur] 4:56
08. Newbie [Bernard] 4:16
09. Folding Green [Bernard] 4:57
10. Rattle Trap [Bernard] 4:48
11. Penske [Bernard] 4:39

Ouça um pouco do álbum no site oficial de Will Bernard.

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sábado, 16 de agosto de 2008

Um vôo no céu azul de Maria Schneider

Indicado em duas categorias ao prêmio Grammy 2007, Sky Blue, lançado pela gravadora Artistshare em 2007, levou o primeiro lugar como Melhor Composição Instrumental pela canção “Cerulean Skies”. Certamente foi um belo reconhecimento para a obra da pianista, compositora, arranjadora e líder Maria Schneider. Discípula de Gil Evans, Schneider avança estilisticamente em relação às tradicionais big bands e apresenta um CD que certamente será lembrado por muito tempo.

A primeira canção do álbum é a ótima “The ‘Pretty’ Road”, que de início soa um tanto introspectiva com ares cool, mas que cresce em intensidade e sonoridade à medida que Ingrid Jensen assume a liderança dos sopros com um flugelhorn e um trompete, enquanto é acompanhada por Tony Kadleck, Jason Carder e Laurie Frink que a acompanham com os mesmos instrumentos. A adição de elementos eletrônicos, cantos de pássaros e vocalizações de Luciana Sousa tem por intenção ambientar o ouvinte com a cidade natal – Windom, MN, EUA – arranjadora, compositora e líder Maria Schneider. O resultado é uma bela viagem por uma estrada tranqüila.

“Aires de Lando” soa como um tango orquestrado que em seus detalhes, como as palmas e o cajon de Jon Wikan e Gonzalo Grau ou o acordeão de Gary Versace, vai ganhando a atenção do ouvinte. Os sopros e metais assumem a frente e conseguem um som envolvente, principalmente pela dramaticidade de Scott Robinson no clarinete.

O solo melancólico e sentimental de sax tenor de Rich Perry dá o tom de abertura da canção “Rich’s Piece”, composta por Schneider para homenagear o seu saxofonista. A ambientação introspectiva obtida por toda a orquestra dá a sustentação necessária para a bela execução de Perry, que encontra na marcação rítmica de Clarence Penn na bateria, de Jay Anderson no baixo e de Frank Kimbrough no piano, o tempo certo para conduzir na linha de frente toda a melodia.

Em seus quase 22 minutos de duração, “Cerulean Skies” adiciona um pouco de ares new age ao jazz orquestrado com seus cantos de pássaros recriados pela flauta. A canção interrompe um crescendo para entrar em um interlúdio mais reflexivo, no qual destaca-se o sax alto de Charles Pillow, que ganha mais força com o acompanhamento do conjunto de trompetes e trombones. O acordeão de Versace, o piano de Kimbrough e o baixo de Anderson levam a canção para um tom quase minimalista e de imersão. A retomada se dá de forma natural e traz a voz de Luciana Sousa como um instrumento que compõe o cenário, pois suas vocalizações não trazem palavras, mas um motivo para ser seguido e ampliado pela orquestra. Apesar de por vezes essa canção não soar como jazz habitual, aquele jazz facilmente reconhecível, Maria Schneider vai além e consegue fazer com que a mesma canção seja jazz e não seja jazz ao mesmo tempo. Desafiando o ouvinte mais tradicional, a compositora extrai o melhor de seus músicos e consegue um ótimo resultado com uma faixa que explora a musicalidade em geral sem se prender ao que se esperaria de uma orquestra jazzística.

“Sky Blue”, a canção quenome ao álbum, é lenta e melodicamente muito bonita. O solo de sax soprano de Steve Wilson dá a direção que a orquestra deve seguir. Ao se aproximar do final da canção, fazendo seu instrumento soar como o canto de pássaros, Wilson deve ter tirado um sorriso de Schneider, uma apaixonada por esses animais.

Em suas cinco canções, Sky Blue tem grandes méritos: o primeiro é ser diferente do que normalmente se espera de jazz orquestrado, pois aquimais espaço para o cool do que para o swing; depois em composições originais, Schneider prova por que pode ser considerada uma das grandes compositoras deste século XXI.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Maria Schneider: compositora, arranjadora, líder; Steve Wilson: saxofones alto e soprano, flauta, flauta alto, saxofone soprano solo (5); Charles Pillow: saxofone alto, clarinete, piccolo, flauta, flauta alto, flauta baixo, saxofone alto solo (4); Rich Perry: saxofone tenor, flauta, saxofone tenor solo (3); Donny McCaslin: saxofone tenor, clarinete, saxofone tenor solo (4); Scott Robinson: saxofone barítono, clarinete, clarinete baixo, clarinete solo (2); Tony Kadleck: trompete, flugelhorn; Jason Carder: trompete, flugelhorn; Laurie Frink: trompete, flugelhorn; Ingrid Jensen: trompete, flugelhorn, flugelhorn e trompete solo com efeitos eletrônicos (1); Keith O'Quinn: trombone; Ryan Keberle: trombone; Marshall Gilkes: trombone; George Flynn: trombone baixo, trombone contrabaixo; Ben Monder: violão; Frank Kimbrough: piano; Jay Anderson: baixo; Clarence Penn: bateria; Gary Versace: acordeão (1, 2, 4), acordeão solo (4); Luciana Sousa: voz (1, 4); Gonzalo Grau: cajon, palmas, percussão (2), percussão (4); Jon Wikan: cajon, palmas (2), percussão (3, 4).

Faixas de Sky Blue:
01. The 'Pretty' Road [Schneider] 13:28
02. Aires de Lando [Schneider] 10:00
03. Rich's Piece [Schneider] 9:34
04. Cerulean Skies [Schneider] 21:57

05. Sky Blue [Schneider] 8:08

Ouça um pouco do álbum no site oficial de Maria Schneider.



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Vídeo
de Maria Schneider falando sobre o projeto Sky Blue:


sábado, 9 de agosto de 2008

O ímpeto de Terence Blanchard

Conhecido por diversas composições para trilhas sonoras de filmes hollywoodianos ou por ter substituído Wynton Marsalis no Jazz Messengers de Art Blakey, Terence Blanchard é um dos mais expressivos trompetistas e compositores de jazz da atualidade. Vencedor do prêmio Grammy por seu álbum A Tale of God’s Will (A Requiem for Katrina) de 2007, Blanchard aparece hoje no blog com um de seus melhores trabalhos, o CD Bounce lançado pela gravadora Blue Note em 2003, que é um importante marco de seu retorno às composições não destinadas a produções cinematográficas.

A canção que encabeça Bounce chama-se “On the Verge”, que tem seu ritmo calcado no Hard Bop pelo estilo pesado do baterista Eric Harland muito bem acompanhado pelo baixista Brandon Owens. Os caminhos divergentes que tomam o pianista Aaron Parks e Robert Glasper comandando o Fender Rhodes também é uma marca muito interessante dessa canção, que ainda conta com enérgicos duetos de Terence Blanchard ao trompete e de Brice Winston no sax.

A refinada sonoridade alcançada pelo trio piano-baixo-bateria dá o tom a “Passionate Courage”, que se configura em uma agradável canção lenta, na qual o trompete de Blanchard pode experimentar mais liberdade para solar.

Em “Fred Brown” o peso com que Harland desfere suas baquetadas nos pratos e na caixa dá a sustentação para o solo de todos os músicos, tanto quando Blanchard toca agilmente seu trompete ou quando Glasper tira algum swing de seu Hammond B3. Uma ótima demonstração de Post-Bop, que traduz bem o ímpeto quenome ao álbum.

A música brasileira é homenageada com a composição “Nocturna”, de Ivan Lins e Vitor Martins, que soa melodiosa e apaixonada, seja pela delicadeza alcançada por Blanchard, pelo acompanhamento preciso de Harland e Owens, pelo belo solado do violonista Lionel Loueke.

Os ritmos africanos são a marca de “Azania”, uma obra de improvisação coletiva a começar pelos graves vocais de Loueke e a liberdade dos agudos de Blanchard ao trompete. Destaque também para o baixo de Owens, que dá uma encorpada ao som e fornece sustentação também ao piano de Parks, que adiciona mais força à canção.

“Footprints”, de Wayne Shorter, recebe um ótimo tratamento nesta gravação, pois o balanço de Glasper e Blanchard é envolvente e tem um tom contagiante e dançante. “Transform” continua o suingado da faixa anterior, porém fornece a Blanchard momentos de livre expressão, no qual ele alcança notas mais altas para depois levar uma melodia cheia de balanço.

A balada “Innocence” acrescenta um tom melancólico ao álbum, caracterizando-se por ser uma faixa de andamento lento inicial bem conduzido por Owens, Harland e Parks, que ganha em integração dos músicos e permite a Blanchard mostrar suas qualidades em duetos com Winston. O retorno ao final mais lento fecha muito bem a composição e faz o ouvinte se surpreender que tenham passado quase sete minutos e meio de uma peça muito bem conduzida pelo conjunto.

“Bounce/Let’s Go Off” traz um pouco da sonoridade de New Orleans e muito de experimentação. Abusando dos solos de baixo de Owens ou das baquetadas de Harland, a intenção de Blanchard parece ser dar vazão à expressão jazzística em uma faixa que coloca os músicos a tocar quase que para si os seus próprios instrumentos. Como dá a entender o título da canção, depois de liberar seu ímpeto é hora de ir embora.

Nenhuma coleção de CDs de jazz do século XXI pode ficar sem pelo menos um álbum de Terence Blanchard, por isso Bounce se torna uma excelente aquisição.

Faixas de Bounce:
01. On the Verge [Parks] 8:43
02. Passionate Courage [Blanchard] 6:32
03. Fred Brown [Blanchard] 7:42
04. Nocturna [Lins, Martins] 7:33
05. Azania [Blanchard] 6:04
06. Footprints [Shorter] 7:31
07. Transform [Harland] 9:00
08. Innocence [Owens] 7:23
09. Bounce/Let's Go
Off [Blanchard, Harrison] 7:06

Ouça um pouco do álbum no site da Last.fm.

Ouça um pouco do álbum no site de Terence Blanchard.

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O lugar e o tempo de Anat Cohen

Nascida em Tel Aviv, Israel, a saxofonista tenor, soprano e clarinetista Anat Cohen é figura conhecida e celebrada na cena jazzística de Nova York desde 1999. Entusiasta da música brasileira, colombiana e afro-cubana, ela estudou e tocou com vários músicos sul-americanos e conseguiu integrar com graça e naturalidade essas influências em seu jazz. Em seu primeiro CD, Place & Time, lançado em 2005 pela gravadora Anzic, Anat Cohen demonstra seu amadurecimento musical e qualidades artísticas apuradas.

“Place & Time”, a canção quenome ao álbum, é a faixa de abertura do CD, que tem sua bela melodia muito bem delineada pelo elegante sopro de Anat Cohen em seu sax tenor, enquanto muito bem acompanhada pelo não menos distinto e delicado pianista Jason Lindner. Ótima escolha para faixa de abertura.

“The 7th of March” encontra lugar em uma bela fusão de jazz com tango e percussão e latinidade! O melhor dessa mistura é que tudo soa muito bem e de maneira muito harmoniosa. O baixo bem marcado de Ben Street casa certo com a bateria de Jeff Ballard para juntos estabelecerem a seção rítmica que engrandece o piano de Lindner e ganha apurado senso estético graças a Anat.

A fusão de estilos musicais continua no belo tango “Veinte Años” composto pela cubana Maria Teresa Vera, no qual Anat ao clarinete conduz o grupo por uma envolvente melodia recheada de sensualidade e delicadeza. A canção “87 North” tem o trompetista Avishai Cohen, irmão de Anat, como convidado especial (nãoqualquer relação entre ele e o baixista de mesmo nome). Com um ritmo bem marcado pelas sonoridades por baixo e bateria, a saxofonista pode fazer um agradável solo que encontra o trompete sofisticado de Avishai, enquanto o Lindner dá um espetáculo à parte no acompanhamento.

Ao gravar “Say It” de Loesser & McHugh, Anat mostra a sua veia lírica com intensidade em uma versão que pouco remete à belíssima gravação que o quarteto de John Coltrane fez para essa música no álbum Ballads de 1962. Em vez de apostar na introspecção como fez Coltrane no passado, Anat permite mais balanço à canção com solos intensos. Todo o grupo fez um ótimo trabalho com essa canção.

“Homeland” é caracterizada pela melodia suave e agradável com um quê de cena de filme de casais apaixonados. Ok, isso é muito subjetivo, mas de fato os irmãos Cohen conseguem transformar uma canção sem surpresas e linear em algo prazeroso de acompanhar da primeira à última nota.

A intensidade do bop se faz presente na enérgica “As Catch Can”, composta por Gerry Mulligan. O ritmo galopante imposto por Ballard e Street e a fluidez com que Anat sopra seu sax tenor marcam essa ótima versão. Ao ouvir essa faixa fiquei com a impressão que o trompete de Avishai foi gravado em um volume mais baixo, o que pode caracterizar alguma falha na captação do som, ainda assim, nada que comprometa.

O tom melancólico e introspectivo são facilmente reconhecíveis em “Pour Toi”, uma canção traz um solo profundo e cheio de sentimentos de Anat. Soando um pouco como um lamento, um pouco como uma resignação, a música traz em sua estrutura a imagem melancólica do velho estereótipo judeu do sujeito sofrido.

Em absoluto contraste com a faixa anterior, “Bat-El” é uma contagiante canção com influência cubana. A mistura rítmica consegue alcançar um ótimo resultado, que é fruto da precisão de Ballad e Street que conduzem o ritmo como se fossem legítimos filhos da ilha de Castro, de Lindner com o seu dedilhado sofisticado ao piano e da energia harmônica dos irmãos Anat e Avishai, que executam duetos de complementaridade combinando cada agudo solto ao ar.

Esse que é apenas o debut de Anat Cohen se mostra uma obra consistente de relevante padrão estético. Anat não é inovadora em sua maneira de tocar, porém é excelente no que faz, que é extrair melodias limpas com muita beleza. Um álbum para se ouvir muitas vezes.

Faixas de Place & Time:
01. Place & Time [Cohen] 5:40
02. The 7th of March [Cohen] 6:07
03. Veinte Años [
Vera] 4:59
04. 87 North [Cohen] 8:04
05. Say It [Loesser, McHugh] 8:38
06. Homeland [Cohen] 6:39
07. As Catch Can [Mulligan] 3:22
08. Pour Toi [Cohen] 4:39
09. Bat-El [Cohen] 8:21

Ouça um pouco do álbum no site oficial de Anat Cohen.



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