sábado, 9 de agosto de 2008

O ímpeto de Terence Blanchard

Conhecido por diversas composições para trilhas sonoras de filmes hollywoodianos ou por ter substituído Wynton Marsalis no Jazz Messengers de Art Blakey, Terence Blanchard é um dos mais expressivos trompetistas e compositores de jazz da atualidade. Vencedor do prêmio Grammy por seu álbum A Tale of God’s Will (A Requiem for Katrina) de 2007, Blanchard aparece hoje no blog com um de seus melhores trabalhos, o CD Bounce lançado pela gravadora Blue Note em 2003, que é um importante marco de seu retorno às composições não destinadas a produções cinematográficas.

A canção que encabeça Bounce chama-se “On the Verge”, que tem seu ritmo calcado no Hard Bop pelo estilo pesado do baterista Eric Harland muito bem acompanhado pelo baixista Brandon Owens. Os caminhos divergentes que tomam o pianista Aaron Parks e Robert Glasper comandando o Fender Rhodes também é uma marca muito interessante dessa canção, que ainda conta com enérgicos duetos de Terence Blanchard ao trompete e de Brice Winston no sax.

A refinada sonoridade alcançada pelo trio piano-baixo-bateria dá o tom a “Passionate Courage”, que se configura em uma agradável canção lenta, na qual o trompete de Blanchard pode experimentar mais liberdade para solar.

Em “Fred Brown” o peso com que Harland desfere suas baquetadas nos pratos e na caixa dá a sustentação para o solo de todos os músicos, tanto quando Blanchard toca agilmente seu trompete ou quando Glasper tira algum swing de seu Hammond B3. Uma ótima demonstração de Post-Bop, que traduz bem o ímpeto quenome ao álbum.

A música brasileira é homenageada com a composição “Nocturna”, de Ivan Lins e Vitor Martins, que soa melodiosa e apaixonada, seja pela delicadeza alcançada por Blanchard, pelo acompanhamento preciso de Harland e Owens, pelo belo solado do violonista Lionel Loueke.

Os ritmos africanos são a marca de “Azania”, uma obra de improvisação coletiva a começar pelos graves vocais de Loueke e a liberdade dos agudos de Blanchard ao trompete. Destaque também para o baixo de Owens, que dá uma encorpada ao som e fornece sustentação também ao piano de Parks, que adiciona mais força à canção.

“Footprints”, de Wayne Shorter, recebe um ótimo tratamento nesta gravação, pois o balanço de Glasper e Blanchard é envolvente e tem um tom contagiante e dançante. “Transform” continua o suingado da faixa anterior, porém fornece a Blanchard momentos de livre expressão, no qual ele alcança notas mais altas para depois levar uma melodia cheia de balanço.

A balada “Innocence” acrescenta um tom melancólico ao álbum, caracterizando-se por ser uma faixa de andamento lento inicial bem conduzido por Owens, Harland e Parks, que ganha em integração dos músicos e permite a Blanchard mostrar suas qualidades em duetos com Winston. O retorno ao final mais lento fecha muito bem a composição e faz o ouvinte se surpreender que tenham passado quase sete minutos e meio de uma peça muito bem conduzida pelo conjunto.

“Bounce/Let’s Go Off” traz um pouco da sonoridade de New Orleans e muito de experimentação. Abusando dos solos de baixo de Owens ou das baquetadas de Harland, a intenção de Blanchard parece ser dar vazão à expressão jazzística em uma faixa que coloca os músicos a tocar quase que para si os seus próprios instrumentos. Como dá a entender o título da canção, depois de liberar seu ímpeto é hora de ir embora.

Nenhuma coleção de CDs de jazz do século XXI pode ficar sem pelo menos um álbum de Terence Blanchard, por isso Bounce se torna uma excelente aquisição.

Faixas de Bounce:
01. On the Verge [Parks] 8:43
02. Passionate Courage [Blanchard] 6:32
03. Fred Brown [Blanchard] 7:42
04. Nocturna [Lins, Martins] 7:33
05. Azania [Blanchard] 6:04
06. Footprints [Shorter] 7:31
07. Transform [Harland] 9:00
08. Innocence [Owens] 7:23
09. Bounce/Let's Go
Off [Blanchard, Harrison] 7:06

Ouça um pouco do álbum no site da Last.fm.

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