sábado, 11 de outubro de 2008

Você está convidado a adentrar o cinema invisível de Aaron Parks

Lançado em 2008 pela gravadora Blue Note, Invisible Cinema é o primeiro trabalho de Aaron Parks como líder para uma gravadora maior. Conhecido por ser o pianista do grupo do trompetista Terence Blanchard, Parks apresenta dez composições próprias, que fazem referência a um jazz “espontâneo” e “cinemático”, conforme definições do próprio Parks. O talento do pianista e seus duetos viajantes com o guitarrista Mike Moreno são destaques de Invisible Cinema.

“Travelers”, a primeira faixa do álbum, puxa o ouvinte para duas rotas diferentes, porque de um lado o baterista Eric Harland executa uma base de jazz-funk; enquanto, o pianista Aaron Parks toca uma melodia cheia de recursos e que se constrói o tempo todo, que ao final da canção se transforma em uma melodia clássica, tanto que se ouvido separadamente, o solo de Parks é próximo de uma sonata.

A bela melodia de piano de “Peaceful Warrior” é a marca dessa canção por sua suavidade e apurado senso estético. A bateria de Harland e o baixo de Matt Penman conduzem o ritmo para que Parks para solar espontaneamente, o que ele faz com maestria. A melodia introspectiva passa por uma transformação e uma mudança de andamento com a entrada do solo do guitarrista Mike Moreno que adiciona um balanço à canção. O diálogo entre o piano e a guitarra é a tônica da segunda parte da canção. Uma nova mudança de andamento faz a melodia voltar à introspecção, quando Parks, tocando belas notas, conduz a canção para o seu empolgante final. Apenas nessa canção, o pianista já mostra ser cheio de recursos como intérprete e compositor, pois “Peaceful Warrior” é uma bela obra-de-arte.

“Nemesis” se constrói a partir do piano de Parks tocando repetidamente a mesma nota e Moreno fazendo um solo repleto de lacunas. O efeito do piano, do baixo e da bateria é quase hipnótico, pois o ritmo é meticulosamente mantido até que Parks se liberta para solar. Mas é um engano pensar que o piano está realmente liberto, pois Parks volta a marcar o ritmo com uma das mãos e tocar um glockenspiel com a outra; enquanto, Moreno conduz a melodia com um solo viajante à Pat Metheny.

“Riddle Me This” tem um ritmo constante e bem marcado pelo baixo de Penman e a bateria de Harland, enquanto o piano de Parks, acompanhado pela guitarra de Moreno, produz uma melodia que tem um crescendo e que vai envolvendo até acabar bruscamente. Já “Into the Labyrinth” é uma canção solo de Parks, na qual uma atmosfera intimista é preponderante.

A primeira parte de “Karma” contrasta o ritmo balançante de Harland e Penman com a melodia introspectiva de Parks e Moreno. A progressão da canção vai dando mais liberdade ao pianista e ao guitarrista que são responsáveis por belos duetos em uma peça que se caracteriza por sua espontaneidade e por seu estilo viajante, que conduz o ouvinte devido a sua fluidez. Parks e Moreno conseguem um entrosamento muito bom nessa faixa, e o mesmo pode ser dito de Penman e Harland, o que faz o trabalho do quarteto excelente.

“Roadside Distraction” cativa por seu balanço, que incorpora alguns elementos bluesy. Parks e Moreno dialogam bem na construção da melodia, enquanto Penman e Harland de maneira competente fazem o acompanhamento.

“Harvesting Dance” encontra na melodia elegantemente conduzida por Parks a sua força central, que é bem distribuída nas batidas bem marcadas por Harland, no baixo seguro de Penman e, principalmente, nos solos e acompanhamentos de Moreno, que encontra muita liberdade para deixar sua sonoridade fluir. É fácil deixar-se envolver pela canção, porque ela é muito bem construída e os duetos de guitarra e piano são repletos de energia.

A suavidade na condução rítmica de Harland e Penman em “Praise” encontra no piano de Parks, e no acompanhamento de Moreno, uma peça de grande beleza. Trata-se de uma canção em que o piano está em primeiro plano, o que faz de Parks o responsável por uma melodia tão agradável. Apesar de lenta, não é uma balada; apesar de suave, não soa intimista; “Praise” é uma linda canção que cativa.

O álbum encerra com “Afterglow”, uma canção solo de Parks com um tom intimista, na qual ele desenvolve um tema sem nunca se afastar da sua referência inicial.

Já considerado como um dos grandes lançamentos de jazz de 2008, Invisible Cinema, que alcançou a posição 21 no Top Jazz Albums da Billboard, dificilmente deixará de dar alguma premiação ao pianista e compositor Aaron Parks nas tradicionais eleições de melhores do ano. O álbum é consistente e apresenta canções de qualidade, além de mostrar não apenas o talento e a capacidade técnica de Parks, mas traz também um grupo de talentosos músicos que juntos realizam um grande trabalho. Parks é um dos mais promissores pianistas de sua geração e alguém de quem pode-se esperar muita contribuição para o jazz o século XXI.

Todos os músicos que participaram do álbum:
Aaron Parks: piano, mellotron (3), glockenspiel (3), teclado (3, 5, 6, 8);
Mike Moreno: guitarra (2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9);
Matt Penman: baixo (1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9);
Eric Harland: bateria (1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9).

Faixas de Invisible Cinema:
01. Travelers [Parks] 5:34
02. Peaceful Warrior [Parks] 9:39
03. Nemesis [Parks] 6:14
04. Riddle Me This [Parks] 2:43
05. Into the Labyrinth [Parks] 2:53
06. Karma [Parks] 8:06
07. Roadside Distraction [Parks] 2:44
08. Harvesting Dance [Parks] 9:35
09. Praise [Parks] 4:43
10. Afterglow [Parks] 2:45

Ouça um pouco do álbum no site My Space.

Ouça um pouco do álbum no site Lastfm.com.

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Veja o vídeo de Aaron Parks tocando “Travelers”:



Veja o vídeo de Aaron Parks tocando “Peaceful Warrior”:



Veja o vídeo de Aaron Parks tocando “Nemesis”:

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