Considerado uma das mais promissoras figuras do jazzatual, Eldar Djangirov, umjovempianista nascido no Quirguistão, gravou Live at the Blue Noteentre 11 e 14 de outubro de 2005, no tradicional Jazz Club de Nova York, quandotinhaapenas 18 anos de idade. Lançado pela gravadora Sony Classical em 2006, o álbum chamoulogo a atençãopor se tratar de umprodígio ao pianoque foi comparado pelaimprensa especializada a Art Tatum e Oscar Peterson.
A primeirafaixa do álbum é uma das composiçõesmais conhecidas de Cole Porter: “What Is This Thing Called Love”. A velocidade de Eldar ao piano impressiona, enquanto o baixistaMarco Panascia e o baterista Todd Strait precisam se esforçarparaacompanhar. Rápidocomo uma paixãoadolescente, o ritmo desse arranjodeixa uma perguntaparaser respondida nas próximas faixas do CD: além de suatécnicainvejável, o quemais Eldar pode mostrar?
“Someday” é umlindodedilharsobre as teclas do piano e uma melodiadeliciosa. Eldar imprime uma sonoridade limpa e clara ao seupiano, tornando-o de fácil apreciação para o público.
O trompetista Chris Botti se junta ao triopara uma participação especial na faixa “You Don’t Know What Love Is”, de DePaul e Raye. A melodia à Chet Baker de Botti encontraperfeitopar na sutileza de Eldar ao piano. Uma ótimabaladaquemarcaum dos pontosaltos do álbum.
“Daily Living” é agradável, apesar de umtantoprevisível. Nenhum dos músicos se arrisca nesta canção, tantoque o destaquetotal se destina à habilidade e velocidade do pianista, porque Strait e Panascia fazem apenas o acompanhamento rítmico.
“Dat Dere” é muitobem construída sobre a marcação de tempo de Strait e Panascia, queumentrosamentomaravilhoso, enquanto Eldar dedilha elegantemente as teclas de seupiano extraindo uma melodiaprecisamentelindacommuitobalanço. alcançam
Ao tocar a cançãomaislenta do set-list, “Besame Mucho”, Eldar traz à tona a sentimentalidade gravada nesta melodia de Skylar e Velázquez. Muitoprecisoemsuasnotas, o pianistatambém se sai bememsuasimprovisações, mostrando quesuashabilidades musicais vãomuitoalém de desafiar os limites de velocidadequeseusdedos alcançam ao piano.
Paratocarumclássico de Monk, o trio recebe no palco o trompetista Roy Hargrove e juntos executam “Straight, No Chaser”. Os estilos de Monk e Eldar sãobemdiferentes, poisenquanto o primeirotinhaumbalançonatural e gostava das lacunas deixadas na música, o segundo é maiscerebral e buscapreenchercadaespaçocomnotas rápidas. Qual o resultado dessa versão? Ficou ótima, pois Eldar levaseusolo a uma grandevelocidade e seuduetocom Hargrove é umdeliciosocontrapontoentreambos os músicos. Muitaenergia e intensidadeemoutropontoalto do álbum.
Opondo-se ao climacriadoanteriormente, “Sincerely” é quase uma sonata, na qual Eldar solo ao piano faz umlindotrabalho. “Chronicle” é uma cançãorápidacom uma boa interaçãoentre o trio. O balanço demonstrado nesta cançãomostra o potencial dos músicosemexplorardiferentescaminhos, o que é muitopositivo. Este é o momento de mais swing de Eldar, Panascia e Strait durante essa apresentação no Blue Note.
Paraencerrar a noite, Eldar escolheu uma das cançõesmais conhecidas da história do jazz, “Take the “A” Train”, de Strayhorn. Se Duke Ellington levou muitagente a dançarcom essa canção, Eldar a transforma emumdesafiopara a suaprópriavelocidade. Umexibicionismo? Sim. Ninguém duvida da habilidade dele comopianista e a maneiracomo as notassão rapidamente lançadas ao ar mostram bastante de suacapacidade; no entanto, a canção perdeu o quetinha de melhor – o seubalanço.
Respondendo a questãoinicial, Eldar mostra neste álbumumsenso musical apurado que pode serobservado nas passagensmais lentas, massobretudo se destacam a clareza e a limpidez de seudedilhar.
Faixas de Live at the Blue Note: 01. What Is This Thing Called Love [Porter] 8:00 02. Someday [Eldar] 9:37 03. You Don't Know What Love Is [DePaul, Raye] 6:12 04. Daily Living [Eldar] 8:18 05. Dat Dere [Timmons] 9:39 06. Besame Mucho [Skylar, Velázquez] 8:10 07. Straight, No Chaser [Monk] 7:02 08. Sincerely [Eldar] 5:51 09. Chronicle [Eldar] 10:33 10. Take the "A" Train [Strayhorn] 2:50
Rudresh Mahanthappa é umnomemuitoimportantepara o jazz do século XXI. Figuraconstante na votação dos melhores do ano da revista Downbeat, ficou com o segundolugarcomoEstrela do JazzemAscensão no saxalto de 2006. A influência da músicaindiana de seusancestrais é temacorrente na musicalidade de Mahanthappa. Codebook, lançado em 2006 pela gravadora Pi Recordings, é o álbummaisrecente de Rudresh Mahanthappa comolíder. De acordocom o siteoficial do saxofonista, as composições desse CD sãoderivações de métodos e conceitos de criptografia e teoria numérica.
Codebook abre com “The Decider”, quelogo de caradeixaclaroque o que se vai ouvirnão é umestilo musical tradicional. Velocidade e ritmosasiáticossão as primeiras abordagensque o saxalto de Rudresh Mahanthappa oferece ao ouvinte, quelogo está envoltoemAvant-GardeJazz de tirar o fôlego. A seção rítmica do baterista Dan Weiss e do baixista François Moutin imprimem umandamentovelozque se soma ao sax do líder, enquanto o piano de Vijay Iyer ganhadestaqueporimprimirconsistência ao todo.
“Refresh” é uma belacançãoque combina muitobem o saxalto de Mahanthappa com o piano de Iyer. A partir de umtemaindiano, a melodia se desenvolve e o resultado é Post-Bop de qualidadequequebrabarreirasconvencionais e extrapola os limites do gênero nascido na América do Norte.
O balanço de “Enhanced Performance” é conseguido pelobomentrosamento do baterista Weiss e do baixista Moutin, enquanto Mahanthappa é responsávelporimprimirvelocidade e energia à cançãocomsuaexuberanteatuação no sax. Com a maneirarápida e “pesada” de Iyer ao piano, a canção atinge o clímax.
“Further and in Between” mostra a versatilidade de Mahanthappa ao passar de umtema melodioso paraumtemarápido e depoisalternarnovamenteentre os dois. Aos sopros de outrossaxofonistas essa cançãopoderiaser uma balada, mascom Mahanthappa ela é umbeloexemplo de jazz de vanguarda, que consegue ser ao mesmotemposuave e áspera. Tudo está muitobem encaixado nesta canção, pois a seção rítmica é precisa e Iyer mostraporque é um dos principaispianistas do jazz do século XXI.
“Play It Again Sam” é agradável aos ouvidos, poismostra a virtuosidade de Mahanthappa, que extrai umbelo Post-Bop – beirando o Free Jazz – com uma sutilezaquechegaquase a umquê de romantismo. “Frontburner” é, ao contrário da faixaanterior, seca e toda marcada pelaespontaneidade dos músicosque se entregam ao Free.
Em “D (Dee-Dee)” ganham destaque o baixo de Moutin e o piano de Iyer, que fazem as alternâncias de sonoridade e transformam essa em uma canção escorregadia, queleva o ouvinteparaumlado e depois o conduz porcurvas. A imagem de uma serpenteeraconstanteemminhamente ao ouvir essa canção.
“Wait It Through” é um Post-Bop de primeiraqualidadecomumtrabalhoconjunto do quartetomuitobom. Cadainstrumento é acrescido à cançãocomprecisão e fazem tantonossolosquanto na totalidadeumtrabalho primoroso. Ecos de John Coltrane e Eric Dolphy podem ser percebidos à distância, mas Mahanthappa tem suaprópriamaneira de tocar e compará-lo aos grandes do passado é apenas uma maneira de referenciar, e elogiarporextensão, masjamais reduzi-lo. Mahanthappa é um dos grandesnomes da atualidade e pode ser o maioremalgunsanos.
“My Sweetest” retoma a melodiasax à indianapara se transformarem uma belabalada ao melhorestilo do convencionaljazznorte-americano. Será? A seção rítmica, masprincipalmente Weiss, está aquiparamostrarqueessequartetoaindaandasobre as linhas do Post-Bop. Mahanthappa e Iyer formam uma dupla de ouropara o jazzatual e nessa faixacadaum demonstra o porquê dessa afirmação.
Faixa de Codebook: 01. The Decider [Mahanthappa] 7:04 02. Refresh [Mahanthappa] 6:36 03. Enhanced Performance [Mahanthappa] 6:09 04. Further and in Between [Mahanthappa] 8:14 05. Play It Again Sam [Mahanthappa] 7:06 06. Frontburner [Mahanthappa] 3:46 07. D (Dee-Dee) [Mahanthappa] 5:54 08. Wait It Through [Mahanthappa] 6:10 09. My Sweetest [Mahanthappa] 6:21
O álbumAs Is... Live at the Blue Note, do baixista Avishai Cohen, lançado pela gravadora Halfnote em 2007, é compostoporum CD e um DVD comperformances gravadas em 31 de agosto e 1º de setembro de 2006 no Blue Note Jazz Club emNova York. Isto é jazz de primeiraqualidade, quecertamente ficará na memória de quem presenciou essas performances fantásticas. Essejá se tornou um CD obrigatórioparaquemgostaouquerconhecer o melhor do jazz do século XXI.
O CD abre com “Smash”, uma bela e envolvente canção sustentada pelobalançoque Avishai Cohen tira de seubaixoacústico, pelotoque de modernidade do tecladista/pianistaSam Barsh, as batidas certeiras e precisas do baterista Mark Guilliana e pelotoque de hard/post bop do saxofonistasoprano Jimmy Greene, que faz apariçãocomoconvidado. Imagino alguns puristas do jazz torcendo o nariznosprimeirosacordes desta canção (confessoque o meunariz virou umpoucopara a esquerda!), masapós os primeiros 35 segundoseujá estava conquistado e seguindo no ritmocativante dessa canção. Quando Barsh passa do tecladopara o piano, eujá estava seguindo no embalo do grupo.
Na cançãoseguinte, “Elli”, o grupo entra em uma viagemmais intimista comdireito a Cohen usar a caixa de seubaixocomopercussão e a umagradávelpizzicato. “Etude” é uma cançãoque cresce de algosemelhante a uma sonatapara uma celebração de ritmosfunkcomtoquelatinocom as participações dos convidadosespeciais Diego Urcola ao trompete e Greene ao saxtenor. Uma performance de perder o fôlego.
Com “Bass Suite #1”, Cohen traz o baixoacústicopara o front acompanhadopelotoque refinado de Urcola. O baixistabrilha ao “batucar” a caixa do instrumento e tirar pelas notas das cordas ao mesmotempo.
“Feediop” é um dos melhoresmomentos do álbum. Apesar do gruposer verdadeiramente umtrio baixo-piano/teclado-bateria, o acréscimo dos instrumentos de sopro trouxe umacréscimo de qualidademuitogrande ao conjunto. Nessa canção, Greene soa totalmente integrado ao pianobem marcado de Barsh, bemcomo à conduçãoque Cohen dá à musicalidade e ao toque refinado de Guilliana, quemarca o ritmocomumcerteirocomedimento, quenão dá espaço a exageros. É simplesmenteótimoouviressesmúsicosjuntos.
“Remembering” traz uma belezarara, que arranca aplausos do públicoantesmesmo da cançãoterminar. Méritospara Barsh, que transforma o trabalhoem uma tocante obra-de-arte.
A únicacançãonãocompostapor Cohen nesse álbum é um dos temasmaisfamosos do jazz: “Caravan” de Duke Ellington/Juan Tizol. Nessa faixa Cohen deixaparatrás o seubaixoacústico e toca o elétrico, do qualtiraumsomgalopante funky commuitobalanço, enquanto Barsh levanta do banquinho do pianoparatocarsua melodica em acompanhamento ao saxsoprano de Greene. O resultado é o grupo conseguindo extrairmuito swing do trabalhoconjunto.
O DVD tem algumas faixasquenão estão no CD, mastambém omite outrospresentes na outramídia. A primeiracanção é “Feediop”, depois “Samuel”, inédita no CD, que Cohen escreveu para o pianistaSam Barsh. Uma ótimaoportunidadeparapresenciar a música refinada do trio e observar a perfeitaintegração dos músicos no crescendo e nas variações de velocidade da canção.
“One for Mark” é uma daquelas músicaspara se deixarlevar e apenasseguir o ritmo. Maisumbommomento do show. Em “NuNu” Barsh tem a oportunidade de demonstrarmais uma vez a suaótimatécnica, enquanto Cohen e Guilliana, após o solo de piano, fazem umduetoempolgante. As demaiscançõesque compõe o DVD são “Smash”, “Remembering” e “Caravan”. O DVd apresenta umótimotrabalho de câmerascom uma filmagem quedeixa o espectador na primeirafila do Blue Note Jazz Club de Nova York.
Steve Coleman é uma daquelas figuras do jazzqueserão lembradas porcriaralgonovodentro deste gênero musical. Importantereferência no jazzatual, Coleman é um dos fundadores do movimento M-Base (“macro-basic array of structured extemporization” ou macro-básico arranjo de improvisação estruturada), que consiste em uma extensão do free funk de Ornette Coleman commaioreslacunas na música, imprevisíveisritmosfunk e uma novalógica de solar, definindo-se em uma complexa teorização musical de integrarfunk, soul, world music e jazz.
No álbumOn the Rising of the 64 Paths, lançado em 2003 pela gravadora Label Bleu, Steve Coleman And The Five Elements fizeram umgrandetrabalhoquesó será apreciado porquemprestarbastanteatenção ao som do grupo. Recém chegados ao jazz devem terdificuldadescomesseálbum.
Na primeira faixa do CD, “64 Path Bindings”, o sax alto de Coleman e a bateria de Sean Rickman parecem seguir uma direção mais frenética como quem anseia por chegar, a flauta sem pressa de Malik Mezzadri segue sabendo que o destino não fugirá, o baixo acústico de Reggie Washington faz o cenário, enquanto o baixo elétrico de Anthony Tidd marca um tempo diferente com grandes espaços como se tocasse só. Mesmo dissonante em uma primeira ouvida, todos os instrumentos se encontram em meio a tanta diferença e fazem dessa uma gostosa canção para se ouvir com atenção.
“Mist and Counterpoise” apresenta uma bela ambientação solene, que é disfarçada por um solo elegante do sax alto. Os dois baixos fazem uma bela contraposição, pois enquanto o acústico, aliado ao trompete, mantém o ritmo lento da canção, o elétrico acompanha o sax e flauta na bela melodia produzida por Coleman e Mezzadri.
As vocalizações ao modo Oriente Médio de Mezzadri que abrem “Call for Transformation” são as mesmas que encerram, mostrando o movimento cíclico na canção, que tem um tema muito bem marcado e constante com os baixos e o trompete. Não apenas nesta canção, mas em quase todo o álbum, as composições de Coleman provam que o baixo acústico de Washington e o trompete de Jonathan Finlayson conseguem suprir a falta de um piano no sexteto.
“The Movement in Self” é introspectiva e abusa nas lacunas e espaços deixados na música. Rickman, Washington e Tidd dão o ritmo lento, mantendo o ouvinte em suspense, enquanto Coleman faz o jogo de oferecer e esconder a melodia. Uma grande canção que requer dedicação do ouvinte para compreender todas as nuances que o grupo fornece.
A únicacanção do álbumquenão foi compostapor Coleman é “Dizzy Atmosphere”, de Dizzy Gillespie., e que nesse momento soa quasecomo uma provocação, afinaldepois de tantas melodias lentas, porvezes arrastadas, a versãoenérgica tocada pelabanda contrapõe tudoque há emOn the Rising of the 64 Paths. Coleman parece dizerqueseu macro-básico arranjo de improvisação estruturada integra tãobem o bebop quanto o funk, os ritmoslatinos e sonsétnicos.
Com “Eight Base Probing” o grupo apresenta umtemacontínuoquemostra a beleza da integraçãoentre o saxalto, o trompete e a flautatantoquando desenvolvem o mesmotemacomoquando se destacam parasolar. O sexteto consegue levar a música a umpontoalto ao rumaremdireção às fronteiras do hard bop, do funk e do free jazz, massemnunca ultrapassá-las. Talvezporser uma das cançõesmaisacessíveis do álbum, este seja um de seusdestaques.
“Fire Revisited” é uma experimentação musical que, primeiramente, nasce da concordância de todos tocarem o mesmotema repetidamente atéque o baixistaacústico Washington é abandonado na tarefa de seguircom o moteparaque os demais possam desenvolverseussolosatéque o próprio Washington abandona o tema e deixa o baixoelétrico de Tidd levar a cançãoatéumhiato de mais de doisminutos. Depois é surpresa de Coleman e não serei euque irei estragá-la contando.
Faixas de On the Rising of the 64 Paths: 01. 64 Path Bindings [Coleman] 6:58 02. Mist and Counterpoise [Coleman] 6:42 03. Call for Transformation [Coleman] 10:43 04. The Movement in Self [Coleman] 6:16 05. Dizzy Atmosphere [Gillespie] 6:07 06. Eight Base Probing [Coleman] 12:47 07. Dizzy Atmosphere (alternate take) [Gillespie] 7:09 08. Fire Revisited [Coleman] 13:37
Lançado em 2006 pela Artist Share, At Sea, é um álbum forte e vigoroso com o melhor do post-bop e alguns mergulhos perigosos que quase alcançam o artificial smooth jazz. A trumpetista canadense Ingrid Jensen vai além de suas inspirações em Miles Davis e conduz seu grupo em composições inéditas e poucos standards.
A canção "At Sea" é construída sobre as linhas ditadas pelo trompete, que são seguidas por uma ambientação quase new age produzida em especial pelo estilo peculiar do baterista Jon Wikan e pelo tecladista Geoff Keezer. "Cymbal Storm" é ao mesmo um complemento da faixa anterior, um breve solo de pratos de Wikan e uma introdução a "Captain Jon", talvez a melhor canção do álbum por demonstrar a harmonia existente entre os membros da banda. Enquanto Wikan e o baixista Matt Closehy ditam o ritmo, Jensen e Keezer, ao piano, conduzem em alternância e depois mutuamente a viagem marítima do capitão Jon. Essas três primeiras canções contam uma aventura de barco no Alasca.
"As Love Does" revela-se uma ótima balada muito bem trabalhada por Keezer e Closehy, na qual cada nota é bem trabalhada para encontrar complemento no estilo "quero ser Miles Davis" de Jensen. "Tea and WaterColors" conta com a participação do guitarrista Lage Lund que se une ao grupo em uma canção com uma melodia mais pop que o habitual para esse CD. A versão de Jensen para "There is No Greater Love" de Jones e Symes é uma deliciosa canção construída em cima dos fraseados elegantes de Jensen. Outro bom momento do álbum é "Everything I Love", composição de Cole Porter, que conta com a participação do percussionista Hugo Alcázar. "Swotterings" é uma boa canção para se acompanhar, mas sem grandes surpresas, o que pelo menos garante um bom momento de apreciação do trabalho desses grandes músicos. A última faixa chama-se "KD Lang", uma homenagem à artista pop canadense, e é repleta de mudanças de andamento, tanto que soa como uma balada no início para depois transformar-se em um fusion discreto e passar por um hard bop acelerado e vigoroso e encerrar na calmaria. Imprevisível como o mar.
Todos os músicos que participaram do álbum: Ingrid Jensen: trompete, flugelhorn; Geoffrey Keezer: piano, Fender Rhodes, teclado; Jon Wikan: bateria, cajón, palmas, percussão; Matt Clohesy: baixo; Lage Lund: guitarra (5, 8); Hugo Alcázar: cajón, batajón, djembe (7).
Faixas de At Sea: 01. At Sea [Jensen] 4:22 02. Storm [Wikan] 0:40 03. Captain Jon [Keezer] 6:45 04. As Love Does [Jensen] 9:29 05. Tea & Watercolors [Keezer] 7:41 06. There Is No Greater Love [Jones, Symes] 5:39 07. Everything I Love [Porter] 9:13 08. Swotterings [Jensen] 10:02 09. KD Lang [Jensen] 12:27
Tragicomic é o título do novo álbum do pianista hindu-americano Vijay Iyer lançado em abril de 2008 pela gravadora Sunnyside. Eleito como primeira estrela em ascensão entre os pianistas de jazz e primeira estrela como compositor pela pesquisa dos críticos internacionais da revista Downbeat em 2006 e 2007, Iyer retoma sua carreira como líder depois de se aventurar em vários outros projetos.
O novo álbum traz 12 faixas, sendo 9 composições do próprio Iyer, com destaques para "Macaca Please", "Aftermath", "Age of Everything", "Threnody", "Becoming". Mesclando velocidade com suavidade, Tragicomic alterna uma sonoridade agressiva com toques de belo lirismo. Embora não tão denso quanto em seus álbuns anteriores Iyer, demonstra sua elegância ao dedilhar as teclas de seu piano com energia e precisão. O que é tragicômico nesse álbum? À primeira vista o fato de Iyer ter colocado o piano à frente dos demais instrumentos e não ao lado para explorar a força do conjunto como um todo como em seus CDs anteriores como Reimagining e Panoptic Modes. O que se ouve então é um quarteto soando diferente, mas diferente não significa mal. Tragicomic é um grande álbum, que investe menos na sonoridade indiana das raízes do pianista para arriscar mais nas levadas do piano e das bem colocadas batidas do baterista Marcus Gilmore, que emprega um ritmo mais pesado, que por vezes consegue fazer um belo contraponto com a suavidade que Iyer emprega em determinados momentos como na faixa "Window Text". O baixista Stephan Crump está muito bem colocado nestas gravações e dá ao grupo um belo acabamento, fazendo com que a sonoridade fique muito bem fechada. Confesso que senti falta de mais participação do excelente alto saxofonista Rudresh Mahanthappa, de quem sou fã. "Machine Days" é a faixa que Mahanthappa encontra melhor espaço dentro do álbum. Nos discos anteriores de Iyer, com mais influências de world music, o sax era um destaque tão -- e por vezes mais -- importante quanto o piano. A mudança de sonoridade nas composições de Iyer deixaram o fabuloso Mahanthappa um pouco de lado. "Comin' Up", composição de Bud Powell, é uma demonstração clara de como Vijay Iyer consegue seguir com seus experimentalismos e incursões por músicas étnicas sem se esconder em novas roupagens do jazz. Nessa canção, ele mostra que tem talento para ser um grande pianista em qualquer época.
Vijay Iyer é um dos expoentes do jazz do século XXI. Tragicomic marca uma mudança de sonoridade para o artista, que somente nos próximos anos saberemos se foi o melhor caminho a ser seguido. Por ora, este é um disco altamente recomendável para os leitores deste blog.
Todos os músicos que participaram do álbum: Vijay Iyer: piano; Rudresh Mahanthappa: saxofone alto; Stephan Crump: baixo; Marcus Gilmore: bateria.
Faixas de Tragicomic: 01. The Weight of Things [Crump, Gilmore, Iyer, Mahanthappa] 2:17 02. Macaca Please [Iyer] 4:54 03. Aftermath [Iyer] 6:20 04. Comin' Up [Powell] 4:22 05. Without Lions [Iyer] 2:54 06. Mehndi [Iyer] 6:50 07. Age of Everything [Iyer] 5:24 08. Window Text [Iyer] 5:43 09. I'm All Smiles [Leonard] 4:44 10. Machine Days [Iyer] 7:28 11. Threnody [Iyer] 6:08 12. Becoming [Iyer] 3:38
Natural de Porto Alegre, estou desde 2005 em Florianópolis. Cursei Licenciatura em Letras (Inglês/Português) por quatro anos na UFRGS. Foi nessa época que surgiu o meu interesse por jazz. Posteriormente abandonei o curso para ingressar na faculdade de Psicologia na UFSC. Meu amor pela música é intenso, bem como minha curiosidade pelo novo. Depois de muito ouvir "dinossauros" como Mingus, Coltrane, Miles, Parker, Monk e outros, quis descobrir novos talentos. São algumas dessas descobertas que compartilho neste blog.